O que é que não temos de aguentar em uma revista eletrônica pra ver uma matéria que queremos muito, em?! No último domingo, o programa que alcunha-se de Show da Vida (leia-se Fantástico) nos roubou um precioso tempo falando na possível existência de fantasmas e de lugares mal assombrados. Interessantíssimo, não é?! Mas a matéria de meu real interesse era sobre número de vítimas de homofobia no Brasil segundo o relatório da Secretaria dos Direitos Humanos. O relatório da SDH foi elaborado a partir das denúncias do disque 100 e mostrou uma paisagem empiricamente conhecida por nós homossexuais, mas provavelmente desconhecida para a maioria dos heterossexuais. Esta paisagem homofóbica brasileira, segundo a matéria com base nos dados, é alimentada principalmente pela família ao discriminar e promover a violência física e psicológica contra seus membros homossexuais. Das quase sete mil denúncias de agressões analisadas, 42% aconteceram em casa e 30,8% aconteceram na rua. No entanto, como este número é um resultado das denúncias feitas ao disque 100, e levando em consideração os vários casos que podem não ter sido denunciados, acredito que este número de violência de caráter homofóbico, em casa ou na rua, seja muito maior.
O que eu achei da matéria? Gostei. Foi uma ótima ideia o Fantástico ter colocado uma jornalista cadeirante para trabalhar com esta pauta, os depoimentos são tristes e desconfortáveis, e mesmo que às escuras, conseguiram transmitir uma mensagem clara de que a homofobia não se qualifica somente como um assassinato motivado por discriminação da diversidade de orientações sexuais, repudio ou ódio a comunidade LGBT, mas também como um terrível sofrimento psicológico. Que a homofobia existe ao ponto de uma entrevistada dizer que em sua casa, ela tem apenas inimigos, e a única coisa que pede a eles, é respeito. Que a homofobia, ao contrário dos que alguns dizem, existe sim, tanto que atinge não somente aos gays, travestis, lésbicas, bissexuais e transexuais, mas aquele pai e aquele filho confundidos com um casal gay, aqueles dois irmãos heterossexuais que andam abraçados na rua e um deles é barbaramente assassinado.
Ressalto somente que foi uma pena a matéria não ter tocado em um dado importante do relatório: é na infância que a maioria dos homossexuais já começam a sofrer a injúria e a violência homofóbica, seja por parte dos pais, dos irmãos, dos tios, dos avós, etc. Tal dado me fez lembrar a fala de Osvaldo Bazán, jornalista e escritor argentino, num discurso pronunciado na Câmara dos Deputados durante o debate da lei de matrimônio igualitário nas comissões legislativas: “a criança judia sofre a estupidez do mundo, volta para casa e lá seus pais judeus lhe dizem: ‘estúpido é o mundo, não você’. E lhe dizem por que essa noite não é como todas as noites, e contam para ele a história daquela vez em que tiveram que sair correndo e o pão não levaram. Dão-lhe uma lista de valores e falam: ‘Você está parado aqui’. E saberá a criança judia que não está sozinha. A criança negra sofre a estupidez do mundo, volta para casa e lá seus pais negros lhe dizem: ‘estúpido é o mundo, não você’. E lhe falam do berço da humanidade, de um barco, de uma guerra. Dão-lhe uma lista de valores e falam: ‘Você está parado aqui’. E saberá a criança negra que não está sozinha. A criança homossexual sofre a estupidez do mundo e nem pensa em falar com os pais, porque supõe que eles vão ficar chateados. Não sabe por quê, mas eles vão se chatear. E para seus pais, o pior é crer que seu filho não é como eles (…). A criança homossexual, só por ter nascido homossexual, só por ter sido parida em território inimigo, está em guerra com a religião, com a ciência e com o Estado. Como poderá uma criança enfrentar uma luta tão desigual?”. (Não preciso nem falar que no quesito de validação dos direitos LGBTS, a Argentina está bem a nossa frente, os representantes políticos tupiniquins teriam muito a aprender com nossos hermanos)
No relatório, também fiquei um tanto surpreso quando vi que as mães tendem a ser os entes familiares mais homofóbicos, que atitudes como a agressão física ou psicológica e expulsar o filho ou a filha de casa, partem, na maioria das vezes, delas: 9,5 % das agressões foram praticadass por mães, enquanto 4,8 % foram praticas pelos pais.
A matéria do Fantástico veio em boa hora? Veio. É ótima a divulgação desse relatório? Sim, é ótima. Mas seria melhor ainda se não ficasse apenas na divulgação. Precisamos de políticas públicas efetivas por parte do governo federal, pois até agora, NÃO HÁ NADA. Alias, se uma mísera e simples tentativa de conter o bullying homofóbico nas escolas foi vetado, ou mesmo uma simples campanha de prevenção contra o vírus do HIV entre os gays por estes serem os mais contaminados também foi vetada, o que dizer então da PL122 que visa criminalizar a homofobia?
Não posso deixar de falar das criticas que a reportagem do Fantástico recebeu dos cristãos antes e depois de sua exibição. Tais criticas não exigiam nada mais, nada menos que o “Show na Vida” fizesse uma reportagem sobre a cristãofobia. Isso mesmo! Cristãos que são mortos, agredidos, ofendidos, expulsos de casa, que tem de travar uma guerra para adotar crianças e casar no estado civil, eles que são rejeitados, perdem o emprego e tem seu psicológico abalado somente por serem ....somente por serem cristãos.
Na verdade, sugeriria ao Fantástico que fizesse uma nova matéria sobre cristianismo sexofóbico, sobre o bolorento e hediondo armário que boa parte dos cristãos insistem em permanecer enquanto vergonhosamente desrespeitam direitos humanos e cidadãos, enquanto insistem em um ódio gratuito para com nós, LGBTS. Sim, estes cristãos que pregam apenas o amor de cristo.
O link para a matéria do Fantástico: http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1681504-15605,00-PRINCIPAIS+AGRESSORES+DE+HOMOSSEXUAIS+SAO+DA+PROPRIA+FAMILIA.html
muito bom você divulgar isso. não vi a matéria no fantástico, mas vou dar uma olhada. abraços!
ResponderExcluirÓtimo texto Marc. Não vi a reportagem, mas vou ver agora. Você colocou muito bem a questão da homofobia na infância.
ResponderExcluirFalta civilidade ao homem, por mais que se evolua....
abraços
Caramba! Muito bom seu texto!
ResponderExcluirO Fantástico precisa priorizar matérias mais importantes e sociais como: o bullyng, homofobia, anorexia, racismo, sexismo, obesidade infantil, alcoolismo (etc) e largar estas merdas de fantasmas..putz, ninguém merece mesmoooo...rs.
ResponderExcluirAbraços, querido, um ótimo texto.
Sem dúvida ótimo texto, uma exposição da homofobia muito bem feita, esta a qual não é tocada nos discursos que costumamos ouvir em favor dos nossos direitos e quantas são as crianças desamparadas no núcleo familiar e na sociedade. Precisa trabalhar mais nesses assuntos, alias sempre precisamos trabalhar mais para um mundo melhor.
ResponderExcluirAbraços!!!
Eu queria ver a matéria dos fantasmas, beijos!!!
ResponderExcluirrsssss
Mas enfim.. Eu adorei seu texto, n vi a reportagem ao vivo, mas dei uma olhadinha ai no seu link, tb achei que foi um passo bacana...
Mas a fala da coroa que abriu associação de pais me chamou ainda mais atenção pra uma coisa que eu o que eu já senti falta a medida que fui lendo sua descrição da matéria...
Ela falou a cerca do fato de hj as pessoas terem uma maior aceitação da causa no filho do vizinho, mas n toleram quando a "problemática" é no seu quintal... Acho que essas matérias precisam linkar a homofobia dessas pessoas aos casos de agressões apontados.. Nego tem de parar de achar que homofobia só quem faz são os carecas do ABC, se desfazer desse discurso "eu n sou homofóbico, não.. Gosto até do rapazinho da padaria trato que nem que fosse gente normal, só n quero um filho meu viado"...
N da pra o dono desse discurso permanecer fazendo que não é com ele, que seu comportamento esta desvinculado ao do cara que da com a lampada na cara do homossexual na rua.. Ele precisa entender que indiretamente faz mal pra essa gente, que nutre uma cultura onde esse comportamento é cabível...
Sei lá, acho realmente importante amarrar isso, o hetero que pensa que não é homofóbico, mas é, me mostra alguma disponibilidade pra aceitar melhor a causa, ele muitas vezes não tem a intenção de fazer mal, mas faz e no momento que enxergar isso, de repente pode fazer de uma outra maneira... Acho um publico potencial pra estarmos conquistando.
Tem tempo já que o fantástico não agrega nada em nossas vidas, não assiste essa matéria, mas concordo com vc, falta e muito uma abordagem mais séria e profundo sobre esses assunto, e essa matéria poderia ter falado de religião, falado que em grande medida a homofobia que gera violências é causada pelos fanatismos religiosos.
ResponderExcluirAbraços
excelente texto, mas acho que o Fantástico deveria fazer uma reportagem sim sobre a cristãofobia e captar depoimentos de pessoas que sofreram preconceito por ser cristão, podiam sair perguntando em todo lugar. "vc já sofreu preconceito por ser cristão?". ia ser um bom tapa na cara.
ResponderExcluirMuito bom o teu texto.
ResponderExcluireu não assisti a matéria e só vi agora. fiquei chocado com os dados e só me revoltei mais ainda.
uma matéria como essa deveria passar em dia normal no jornal nacional. sem falar no tempo dela, enquanto matérias idiotas são de quase 10 minutos.
mas já foi um bom começo.
acho tbm que seria um tapa uma matéria sobre a cristãofobia, mas de maneira irônica.
parabéns pelo texto!
me senti no dever de voltar ao anônimo.com e expor minhas opiniões.
Muito bom o texto, bela reflexão.
ResponderExcluirAbraços
Concordo com você e com o Foxx de que deveria sim ter uma matéria sobre a cristãofobia, seria uma piada isso, já que nunca vi ou ouvi alguém dizer que foi espancado na rua só pq é cristão.
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