Espelho, espelho meu.
Quando 24 pessoas subiram ao altar no salão nobre da Faculdade de Direito da USP, em 2011, para celebrar o primeiro casamento homoafetivo coletivo realizado no Brasil após a decisão do STF a favor da união, era quase impossível aplicar rótulos. Casais de mulheres vestidas de noiva dividiam espaço com outras em trajes masculinos e casais de homens de terno, com outros de cauda de noiva. Todos se apertavam entre convidados, cujo espectro identitário se esticava de transexuais que um dia habitaram corpos de homens, de braços dados com outros (ditos héteros), até mães e pais tradicionais. Quem ali era o quê? Para uma pergunta comum duas décadas atrás, a resposta que sobra, em tempos de sexualidades difusas, parece uma só: o questionamento é que não cabe mais. E tende a ter ainda menos sentido no futuro.
“Afinal, qual é o gênero de Deus?”, pergunta-se o reverendo Cristiano Valério, ao se descrever como homem homossexual e líder da Igreja da Comunidade Metropolitana (ICM), “entidade religiosa inclusiva” fundada nos Estados Unidos e instalada há poucos anos no Brasil. Foi ele quem celebrou o casamento na USP. À frente de uma igreja com “bandeira política” – aceitar qualquer indivíduo de qualquer sexualidade e fazer da discussão de gênero e identidade algo do passado –, Valério prediz um futuro no qual o tema seja superado. “Nossos casamentos têm a função de mostrar às pessoas que gênero é uma construção social, e identidade sexual e gênero são coisas bem diferentes. Cada um deve ser aquilo que lhe cai bem, que lhe faz bem. Não é?”
O que o reverendo diz como ativista os pesquisadores têm comprovado na academia: a sociedade, ao menos a ocidental, tende a dar cada vez menos importância às questões de gênero e orientação sexual em prol de escolhas quase customizadas de identidade, baseadas nos direitos individuais de se assumir e buscar satisfação sexual e social como se quiser. “Os pesquisadores hoje lutam com a complexidade do tema. Não assumimos mais que identidade, algo que é autoconstruído, seja o mesmo que comportamento sexual”, explica Julia Heiman, professora de ciências neurológicas e psicológicas da Indiana University, nos Estados Unidos, e diretora do Instituto Kinsey, centro de ponta nos estudos da sexualidade. Um homem que se identifica como heterossexual pode ter sexo com outros homens: o comportamento não anula sua identidade, diz. “Com a exposição às tecnologias, as pessoas tendem a mudar cada vez mais suas expectativas e crenças sobre si mesmas como pessoas sexuais.”
Frederico:
ResponderExcluirExcelente texto, muito lúcido.
Abraços querido.
muito bom mesmo ... um conceito bem interessante ...
ResponderExcluirbjão
E não é que faz (todo) sentido mesmo?!? Hehehe! E meu querido Frederiquinho: eu não "caço" putaria... ela é que (sempre) me encontra. Deve ser lei da atração. Hahahahaha! Bjos!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBom texto mesmo, afinal o gênero da sociedade é ser sem gênero.
ResponderExcluirBjus!
ótimo texto mesmo, os trechos grifados tb são os melhores
ResponderExcluirdá muito pano pra manga, que tal vc separar os trechos e fazer textos sobre eles pra discussão ficar mais aprofundada?
Vamos chamar o tal pedreiro e a gente faz - junto - de novo o clip... queachas?? Hahahahaha! BjAs!
ResponderExcluirRealmente as pessoas deveriam dar menos importância ao gênero, e questões sexuais, pelo menos assim teriam menos motivos para cuidar da vida alheia...
ResponderExcluirAbraços