10 maio 2012

Turbulência no cinema: Bette Davis X Joan Crawford

Dieison Marconi

Uma foi a personificação da maldade nas telas do cinema, tinha um par de olhos esbugalhados, dona de um olhar blasé e melancólico que se tornou música na voz de Kim Carnes. Foi também uma mulher com um temperamento difícil ao extremo. A outra, de uma beleza exuberante, foi a mocinha nas telas e segundo as más línguas e rumores da imprensa da época, a personificação da maldade na vida real. Ambas divas do cinema norte americano nas décadas de 50 e 60, se odiavam de maneira recíproca e  fizeram um único filme juntas O que terá acontecido com Baby Jane?

Bette Davis- (Foto divulgação)
Falo de Bette Davis e Joan Crawford. Bette ficou conhecida por suas atuações invejáveis interpretando personagens malvadas, em que o lado negativo destas, chega a ser belo e vibrante ao ver o que foi essa mulher em cena. Vencedora do Oscar de Melhor atriz pelos filmes Dangerous e Jezebel e dona do maior número indicações ao Oscar na época (cinco vezes consecutivamente), Davis também foi premiada como melhor atriz no Festival de Cannes pelo seu filme All About Eva (Tudo sobre Eva, 1950) e que aqui no Brasil recebeu uma das piores traduções: a Malvada. Bette é considerada a segunda maior lenda feminina do cinema pelo American Film Institute, perdendo apenas para Katherine Hepburn.  Entre as homenagens que já recebeu, está  o filme Tudo sobre minha Mãe, 1999, de Almodóvar, onde algumas das falas como as da personagem Huma Rojo (Mariza Paredes)  fazem referência ao trabalho de Bette como atriz:
Comecei a fumar por causa da Bette Davis. Aos 18 anos fumava como uma chaminé. (Huma Rojo, em tudo sobre Minha mãe.) 
Sempre dependi da bondade de estranhos. ( Huma Rojo repetindo a frase de Bette como Margot, em Tudo sobre Eva.)
 No inicio de Tudo sobre minha mãe de Almodóvar (a semelhança dos títulos não é mera coincidência) a personagem principal discute com o filho sobre a tradução mal feita do título do filme em que Bette Davis atua (Tudo sobre Eva para a Malvada) o que contribuiu para aumentar a imagem de Bette como uma mulher malvada e insuportável, justamente em um filme que ela era a vitima. Tudo sobre Eva ou a Malvada é um dos filmes mais premiados do cinema hollywoodiano, com um roteiro, diálogos, cenas e personagens inteligentes, nada do ostracismo que as vezes vemos nos atuais filmes norte-americanos.  
Para sentir um pouco do gênio, temperamento e humor de Bette Davis, aí vão algumas de suas frases mais famosas, proferidas tanto por suas personagens como por ela mesma. Primeiro a  frase original, depois a tradução.
“Yes, I killed him, and I’m glad, I tell you. Glad, glad, glad”.

“Sim, eu matei ele, e estou contente. Digo-lhe, contente, contente, contente ( No filme a Carta)



“Sobre Joan: “She has slept with every male star at MGM except Lassie.”

Ela já dormiu com todos os astros da MGM, exceto Lassie.


“Why am I so good at playing bitches? I think it’s because I’m not a bitch. Maybe that’s why Miss Crawford always play ladies.

”Porque sou tão boa interpretando vilãs? Deve ser porque não sou uma vilã. Talvez   por isso a Sra Crawoford sempre interpreta mocinhas. “

"Gary was a macho man, but none of my husbands was macho enough to become mr. Bette Davis."

"Gary era um macho man, mas nenhum de meus maridos foi macho suficiente para se tornar o Sra Bette Davis."



"Never say bad things about someone who is dead. Only good things. Joan Crawford is dead. Great!" "Just because someone is dead who became a better person!"

"Nunca se deve falar coisas ruins sobre alguém que está morto. Apenas coisas boas. Joan Crawford está morta. Ótimo!" "Não é porque alguém está morto que se tornou uma pessoa melhor!" (quando sua Joan morreu em 1977)


Joan Crawford and I have never been warm friends. We have never been nice. I admire her and at the same time, I'm uncomfortable with it. To me, she is the personification of a movie star. I always had the impression that Crawford was his best performance playing Crawford. "
"Joan Crawford e eu nunca fomos amigas calorosas. Nunca fomos simpáticas. Eu a admiro e, ao mesmo tempo, sinto-me desconfortável com ela. Para mim, ela é a personificação de uma estrela de cinema. Eu sempre tive a impressão de que sua melhor performance era Crawford interpretando Crawford.

"I would not piss on it or if it was on fire." "Eu não mijaria nela nem se ela estivesse em chamas."
"Fasten your seatbelts, it's going to be a bumpy night!”
Apertem os cintos, hoje a noite será turbulenta ( Como Margot, em Tudo sobre Eva)
Joan Crawford (Foto Divulgação)


Mas Joan Crawford também não era fácil. Indicada três vezes ao Oscar de melhor atriz, em 1945 por Almas em Suplício, em 1947 por Fogueira de Paixões e em 1952 por Precipícios D'Alma. Venceu em 1945 e participou de outros filmes de sucesso como Johnny Guitar e O Que Terá Acontecido a Baby Jane? Ao contrário de Bette, Joan interpretava personagens boas, mocinhas e vitimas, quando na realidade boatos sobre a permissividade com seus filhos eram assustadores. A atriz que hoje ocupa a décima posição das maiores lendas femininas do cinema, segundo a própria filha, violentava seus quatro filhos adotivos. No seu testamento, escrito pouco tempo antes de sua morte, Crawford deserdou os seus dois filhos mais velhos, Christina e Christopher, legando uma parcela mínima da sua fortuna aos outros dois. Após sua morte, sua filha mais velha Christina Crawford, publicou o livro Mommie Dearest (Mamãezinha Querida), um livro autobiográfico best-seller no qual descreve Joan como péssima e abusiva mãe. Segundo Christina, a mãe era alcólatra e não tinha nenhum afeto pelos filhos, que teria adotado apenas para fins publicitários. O livro, bastante polêmico, foi levado às telas com Faye Dunaway no papel de Crawford.
Bette e Joan-O que terá acontecido com Baby Jane? (foto divulgação)


A rivalidade entre Bette e Joan não era marketing como acontecia com as cantoras na era de ouro do rádio brasileiro. Odiavam-se de forma recíproca. Ambas entraram para o cinema na mesma época. Antes deste, Davis era atriz de teatro e Joan, linda e exuberante, era dançarina de strip-tease. Durante as gravações de O que terá acontecido com Baby Jane? (Unico filme em que trabalharam juntas) Bette fazia questão de ter consigo no estúdio, uma garrafa da Coca-cola, justamente para afrontar Joan que era viúva do maior acionista da Pepsi.  Em cena, era um duelo de atuação. Bette é impecável atuado com uma mulher velha, resignada e  neurótica que tortura diariamente sua irmã cadeirante que é uma ex atriz de grande sucesso, interpretada por Joan.  Durante o filme, perguntas ficam ao ar do inicio ao fim:  quem   realmente é a irmã perversa?  De quem é a culpa da personagem de Joan ser paraplégica? O que aconteceu com Baby Jane? O filme, que é todo em preto e branco, contribui para o suspense e para o terror de algumas de cenas. Acima de tudo, os diálogos, a produção, o enredo atuação de Bette e Joan são é impecáveis. Ódio na frente e atrás das câmeras.

12 comentários:

  1. Fiquei muito curioso para assistir O que terá acontecido com Baby Jane? adoro filmes em preto e branco

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  2. desculpa, mas as traduções das frases estão qndo não erradas, simplesmente mal feitas...

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  3. Não curto muito o cinema americano...

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  4. Obrigada por achares tal...
    beijinhos,
    pensando com arte.
    (publiquei o seguimento do outro texto, espero a tua opinião)

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  5. Oi Dieison, tudo bem?
    Menino, é engraçado que sempre que ouço falar de Bette Davis, me lembro imediatamente do filme P.S. Eu te amo! que por sinal é o meu preferido.
    O texto tá excelente viu? Só pra constar, rs.
    Frederico, tudo bem?
    Menino, fico super feliz quando gostam dos meus poemas, me faz lembrar das poucas pessoas que me detonavam, que não me davam o menor crédito. Isso é um cala boca para essas pessoas, kkkkkkk
    Bjo

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  6. muito bom esse pot, cinema clássico sempre!!

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  7. Elas odiavam-se mesmo.
    E o filme "O que aconteceu a Baby Jane'" deve ter dado a ambas um enorme prazer de poderem exteriorizar esse ódio uma pela outra.

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  8. Só uma correção importante:

    A frase - "Sempre dependi da bondade de estranhos" - não é da personagem Margo Channing (de All about Eve), mas sim de Blanche Dubois (personagem da peça Um bonde chamado desejo do Tenessee Williams) que, por acaso, é a peça encenada pela Huma Rojo em Tudo sobre minha mãe.

    Na peça a frase é dita por Blanche ao médico que a está levando para a internação em um sanatório e é exatamente essa:

    "Whoever you are, I have always depended on the kindness of strangers."

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  9. Joan Crawford é o maior mito do cinema. Sua beleza, talento e pós vida dizem tudo.

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