Mostrando postagens com marcador Cultura. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Cultura. Mostrar todas as postagens

16 outubro 2012

Sim, eu gosto

8 comentários
Dieison Marconi
 Semana passada fui passar alguns dias na casa dos meus pais, e andando pela rua com fones de ouvido e caminhando com meu jeitinho especial de ser, um guri  que deveria ter cerca de nove ou dez anos de idade, parou em minha frente com sua bicicleta, e disse:
- Meu amigo me disse que tu é mulher.  Tirei os fones de ouvido para ouvi-lo melhor, e respondi com naturalidade:
-Não, eu não ou mulher. Eu sou gay.  E ele com uma expressão de espanto diante de tal  afirmação e da possível  semântica que o termo gay teria pra ele, me indagou: 
-Tu é gay?Mas tu não pode ser gay... 
-Sim, eu posso. Rebati. 
-Então tu gosta de homem?
-Sim, eu gosto. Aí, ele rindo pra mim como se não acreditasse no que tinha acabado de ouvir, saiu andando com sua bicicleta, e eu segui também. Segui rindo da situação ao perceber  como uma criança de 10 anos de idade já tem uma opinião completamente formada sobre a homossexualidade, de que esta é suja, feia, imoral e deve ser evitada por que ser algo inteiramente vergonhoso. Obvio que esta criança não criou essa impressão sozinha:  certamente seus pais contribuíram e muito. Seus amiguinhos, que também foram influenciados por alguém mais velho, também contribuem.  A escola, na omissão de não debater temas como estes na na mais tenra idade, também contribui. Este menino que me parou na rua deve ter uma imagem tão horrível do que é ser gay que chegou a me dizer: "tu não pode ser gay." Novidade nisso tudo? Nenhuma, muito pelo contrário. Só constatei o que todos nós  já sabemos. Que nenhuma criança nasce achando que ser homossexual é sinônimo de uma doença, mas que ao ser parida, já está destinada  a acreditar em tal ideia, pois famílias, amigos,  escolas, mídia,  igrejas e estado já estão ali, altamente poluentes, prontos para formar e dizer qual comportamento é certo e errado, o que deve ser evitado, o que devem discriminar, o que devem julgar e excluir.  Agora substituo a criança que acusa e discrimina pela criança que é acusada e discriminada  e chego a conclusão de que uma criança homossexual já nasce em um verdadeiro território de inimigos, e que ela não tem como proteger-se sozinha. Alguma novidade nesta última constatação? Não, nenhuma também.  Mas também fiquei pensando que ao afirmar naturalmente pra aquela criança que sou gay, será que não plantei uma sementinha da dúvida sobre o que ela que acredita ser gay até o momento? 
 Mas nem tudo está perdido, e não falo somente das conquistas que nós LGBTs temos alcançado nestes últimos anos, como por exemplo o fato de o Rio Grande do Sul gerar carteira de identidade social para transformistas e travestis,  fato do STF reconhecer a união homoafetiva no Brasil e do estado da Bahia que legalizou o casamento civil homoafetivo  semana passada. (Alias pessoal, não que eu queira casar, mas estou solteiro, ok?)  Falo que nem tudo está perdido, pois, já que  este mês é o mês das crianças, fiquei a pensar que seria muito mais bonito se aquele  guri que me parou na rua  me dissesse algo como as crianças do vídeo abaixo, e principalmente, tivesse um pouquinho das mesmas ideias.   
O vídeo tem pouco mais de dois minutos e é uma edição do Fala piá- tv Brasil, que explora a diversidade cultural de crianças em todo o Brasil. É o momento em que meninos e meninas seguram o microfone e falam dos mais variados assuntos, assumindo o controle do programa. Confesso que, ao ouvi-los falar me dá uma esperança enorme em mundo mais tolerante  e sem preconceitos, de que crianças não se tornem adultos intolerantes, preconceituosos e homofóbicos.  E que outras  crianças, no futuro, não se tornem  vitimas dessa mesma homofobia. 
E agora, olhem a a reação dessa outra criança ao se deparar com um casal de homossexuais, e principalmente, a sua conclusão final:  

06 setembro 2012

Quem são eles? Quem eles pensam que são?

9 comentários
Dieison Marconi                          
Todos sabem que as reivindicações da comunidade LGBT, apesar das constantes apunhaladas que sofrem de grupos contrários, nós gays, lésbicas, bissexuais, transformistas e transexuais temos um discurso que aos poucos, em doses homeopáticas, vem se legitimando.  Mesmo assim, ao passo que a nossa minoria sexual torna-se visível frente a mídia, sociedade e poder público, alguns de nós permanecem inexistentes, na invisibilidade social. São aqueles que não têm seu discurso assegurado,  que não tem sua imagem atrelada a esta incessante luta por um vida mais digna e sem repressões, que parecem não existir dentro de um movimento que já tem mérito e muitas conquistas. E pior, essa invisibilidade de alguns dentro do movimento LGBT parece comungar com um preconceito de massa: falo aqui da invisibilidade dos idosos, da invisibilidade dos idosos homossexuais.

Idosos em geral ainda são um tanto quanto inexistentes aos olhos da esfera pública, ainda parecem perder a importância por lhe lançarem o rótulo de “improdutividade” e “despesa” ao poder público. São esquecidos em prol da ultravalorização da beleza e do mito da juventude eterna. Tudo isso acontece ao passo em que estatísticas demonstram que nossa população está vivendo mais, que a longevidade tem sido um exemplo de bom índice de desenvolvimento humano no país se comparado  há décadas atrás. Outro item que parece quase intocável quando o assunto é a população idosa é a sua sexualidade: é como se esta fosse anulada por um preconceito que diz respeito a vida sexual na velhice. É tão difícil imaginar a vovó transando com o vovô? Pode ser, e para muitos, realmente é. Mas eles não são crianças, meu bem. Ainda assim, a atenção que idosos heterossexuais recebem quando comparada com a atenção que idosos homossexuais recebem, temos uma dimensão aterrorizante da falta de visibilidade que os nossos "LGBTs velhos" possuem, pois se as concepções heterormativas, homofóbicas e patriarcais já maculam nossa sexualidade “desviante” enquanto jovens, o que dizer de uma sexualidade desviante na velhice?! Murilo Mota Peixoto, que tem alguns estudos na área, diz que enquanto é “aceitável” remeter a sexualidade de idosos heterossexuais ao carinho, proteção e companheirismo, a sexualidade dos idosos homossexuais está atrelada a estereótipos vulgares, sujos e grotescos.   Além disso, me parece que enquanto idosos heterossexuais vislumbram e possuem um presente rodeado por esposa ou marido, filhos e netos, idosos homossexuais por não se inserirem neste modelo, são  apenas aqueles e aquelas sobreviventes acusados de peste gay lá no  século passado. 

E onde fica a inserção social desta minoria?  Quais são as estatísticas que temos dessa população? Onde eles estão?  Quando passarão a existir do ponto de vista histórico, cultural e social? Quando haverá mais estudos que contemplem gênero e geração? Quando haverá políticas públicas voltadas para este segmento? Ah sim, eu havia esquecido: nosso governo federal, em meados de Fevereiro vetou um vídeo de uma campanha pela prevenção de doenças sexualmente transmissíveis entre homossexuais JOVENS porque neste havia dois  MENINOS que se acariciavam. A campanha se dava pelo fato de que as maiores vitimas de contaminação por DSTs ainda são homossexuais. No entanto, em tal contexto de visibilidade de homossexuais IDOSOS, como vamos esperar algo do gênero voltado para mesmos?    Onde está a comunidade LGBT para torná-los visíveis? Eu sei que é difícil levantar causas de quem está completamente escondido e até se esconde por contra própria, no entanto, temos de cimentar discussões de como dar visibilidade ao idoso homossexual, de como tirá-los do anonimato, de que forma tirá-los do gueto.
Quem sabe,  estudos  como estes abaixo, podem ser o inicio.  Para quem se interessar, é só clicar aí: 

23 agosto 2012

Do armário para a poesia

9 comentários
Dieison Marconi


(Conversas com Felipe Freitag)
Lembro quando você falou: dentro do armário só tem bolor e naftalina, vem já pra fora meu bem, que só aqui é que tem calor e adrenalina.” (  Armário/ Zeca Baleiro) 
Felipe me diz: 
 Me assumi após um período um tanto longo e adverso de assexualidade, justamente, pelo fato de não poder experenciar a minha sexualidade de maneira integral, e diria, até fundamental na cidadezinha onde morava. Com a ajuda, ou melhor, com a espécie de anjo abençoado que surgiu na minha vida em 2008, comecei a criar coragem para as tentativas mais dolorosas que até então povoavam as minhas inquietações. Aos 20 anos, com espaço e tempo definidos, dei meu primeiro beijo, e o mesmo já fora com um menino. Por que razão assumi-me? Simples, embora complicado: chega-se a certo ponto, em que vivenciar a sexualidade é motivo de felicidade enobrecida.
“Se estas paredes falassem, se contassem cada vez que sonhei viver em outro lugar, onde Marte ama Marte, e Vênus pode passear de mãos dadas com Vênus, sem se preocupar." (Dance of days)
 O maior problema em face da minha homossexualidade, sem dúvida adveio da minha família e das pessoas da minha cidadezinha de 3 mil habitantes, pois, meus amigos aceitam-me. Também acredito que as dificuldades em aceitar-me como homossexual tenham surgido tão somente com a minha criação católica, que me levava a crer no conceito de pecado, e também do não conhecimento de outros homossexuais com quem eu pudesse conversar para tentar entender o que se passava comigo.
 "Muitas vezes perdi-me pelo mar, como me perco nos corações de alguns meninos" (Garcia Lorca)
Minha mãe descobriu a minha homossexualidade, como que por acaso, um acaso consciente, na verdade, já que ela leu meu diário em 2009, sem a minha permissão.  A reação dela foi péssima, pois sua vida sempre fora guiada pelos conceitos e dogmas católicos, talvez seja tão somente o motivo de considerar a homossexualidade um pecado que fez com que minha mãe chorasse muito e não aceitasse minha sexualidade. Já meu pai desconhece a minha orientação sexual, ou finge desconhecer. Já meu irmão, turrão e rude, não me aceita.  Inclusive, o maior preconceito que já sofri foi agressão física por parte do meu irmão, embora as agressões verbais sempre tenham doído muito em mim. 
Atualmente, todos os membros da minha família deixam a minha sexualidade na ordem do silêncio, procuram não tocar no assunto, embora, tenha conhecimento dela e da vivência dela. O fato de eu não morar mais com a minha família favorece essa compreensão velada por parte deles.
Sempre me senti meio menino”, e chegou uma época que eu tentei mudar, mas não consegui, eu tentava “ficar” com meninos, mas não dava certo, eu não me sentia feliz.  Eu sou mulher e gosto de mulher. (Em uma outra conversa com uma amiga)
Mas mudou muita coisa depois que eu me assumi: eu pude ter razões para idealizar um futuro ao lado de um companheiro, eu pude descobrir o sexo, eu pude começar a não esconder meus gostos, eu pude deixar de lado o receio em ser o que eu sou. Mas principalmente: eu pude militar na causa, da minha, maneira, mas pude, e ainda posso. E essa minha maneira de militar é a minha literatura. Como “escritor” fui um dos selecionados para compor uma coletânea de contos homoafetivos em 2009, que fora publicado na Bienal do livro de São Paulo. E ainda, o fato de eu tencionar às vezes o amor homossexual em meus contos e poemas é a minha forma de militância: 

Lesmas.
Lesmas bailarinas aquelas que escorregavam pelo meu pau já duro.
Lesmas e gosmas, gosmas misturadas. Leite e sal.
Lesmas que valsavam ao ver aquele putinho de cachecol na esquina da avenida Roraima
Somente lesmas, apenas lesmas.
E as gosmas a se misturar, e o cheiro a se confundir.
E um dia, as gosmas eram quatro.
As minhas e as dele.
Não do putinho com cachecol, mas do moço da loja.
E eu percebi que as gosmas eram tão parecidas.
Que as gosmas leitosas, esbranquiçadas- eram gosmas de amor?
E as lesmas valsam, valsam e nada se entende disso a que chamam de amor.
Lesmas. 
(Felipe Freitag)

16 agosto 2012

Tá cada vez mais down, down, down

15 comentários

Dieison Marconi          

Há dias em que nada faz muito sentido, e pra mim, já há meses com a minha universidade em greve, estou  tão frustrado com a desatenção que a  educação pública tem recebido que parece hipocrisia da minha parte aceitar um convite de uma antiga professora de ensino médio pra falar com os atuais formandos do terceiro ano sobre Enem, vestibular, ProUni, vida acadêmica, formação profissional, etc.  Parece hipocrisia pois no momento em que fui convidado, pensei:  o que eu vou falar pra esses alunos? Que é importante estudar, galgar sonhos, entrar para uma universidade, lapidar conhecimento, formar-se, e vou até fazer uso daquele clichê que ouvi durante esses meus 19 anos de existência: ser alguém na vida. Falar isso tudo quando estou estudando em uma universidade federal que está com quase três meses em greve, enquanto o governo federal, no auge de sua intransigência, fecha a mesa de negociações, tenta cortar o ponto  dos professores grevistas, ignora o movimento, não atende as exigências do funcionalismo público, pensa apenas em expandir universidades sem estrutura física e humana qualificadas, deixa milhares de alunos sem aula, cerca de 100 universidades e institutos federais em greve, entra em acordo com apenas uma entidade que não representa a categoria dos professores, acha a greve dos docentes algo precitado e não cumpre suas promessas.
Como eu vou falar que educação é importante pra eles quando o próprio governo federal não faz da educação  sua prioridade, mesmo sendo essa um de seus  principais discursos durante sua campanha eleitoral em 2010, quanto temos de travar uma luta pra conseguir, vejam bem, pra conseguir destinar míseros 10% do PIB ao sistema educacional?!  Assim, quando recebi o convite, parecia-me, a todo o momento, que eu não acreditava mais no que eu tinha de lhes dizer. 
Mesmo assim, fui ter a conversa tentando acreditar que a educação, apesar de defasada, vá lá, quem sabe ainda possa  nos abrir os olhos pra não acreditarmos em tudo que nos dizem,  para  não sermos enganados como estamos sendo nesses meses em que temos 33 categorias de trabalhadores em greve, com 300 mil servidores públicos paralisados e o governo diz que atender suas exigências pode quebrar a economia do pais.  Por favor, Ministério da Educação, Ministério do Planejamento e Sra Presidenta, não nos façam de idiotas, não pensem que podemos acreditar nestes argumentos falaciosos, nestas palavras endossadas de hipocrisia, afinal, é como questionou Muniz Sodré esta semana na Carta Capital:  “estas palavras não aparecem nos discursos oficiais sobre os preparativos para a Copa do Mundo ou para as Olimpíadas. Num país que dispõe (neste mês de Agosto) de 376 bilhões de dólares em reservas, paga em dia a dívida externa e é credor do Fundo Monetário Internacional, não se podem invocar os álibis da crise mundial e seu agravamento, mesmo com a redução do PIB.”   
Ok, mas eu fui lá  ter a conversa com os vestibulandos, fomos eu e uma colega.  Resultado: eu não devia ter ido, e no final, além de não estar acreditando no que eu mesmo dizia, voltei pra casa mais desapontando ainda. Por qual motivo? Poucos foram os alunos interessados no que dizíamos, a maioria simplesmente passou cerca de uma hora rindo descaradamente de mim, da minha voz, da minha gesticulação. Os rapazes me olhavam, falavam baixo uns com os outros e riam, simplesmente riam... algumas meninas faziam o mesmo.  Eu ignorei, falei até o final, prestei atenção no que minha colega falava pra aproveitar os ganchos e acrescentar algo mais, no entanto, foi uma situação tão desconfortável, que por vezes, tudo que eu tinha pra falar, se perdia...  De repente, eu só via eles rindo a cada gesto (efeminado) que eu fazia, cada vez que eu abria a boca e falava (com minha voz efeminada), afinal, nada mais justo do quer rir de um gay, não é?! Fiquei me perguntando qual seria a minha expressão facial diante de tudo aquilo. Havia tempo que eu não passava por isso, e confesso, me desestabilizou. 
Foi nesse momento que eu lembrei também  das políticas públicas vetadas pelo governo federal quando pretendiam trabalhar o respeito para com a diversidade de orientação sexual na escola.  O pior: esta escola foi onde eu me formei no ensino médio, onde eu já tinha passado por situações semelhantes. E pior ainda: parece que nada mudou. No final, recusei a carona que uma ex professora me ofereceu até em casa, pois  não queria  falar com mais ninguém, saí na rua e acabei tomando um banho de chuva, fiquei com tanta raiva que ao chegar em casa, desabei chorando, amaldiçoei a escola, aquela gente, a minha cidade natal, enquanto minha irmã me consolava.  Ser motivo de riso por ser gay nunca foi novidade pra mim, mas com as pessoas que eu vivo e convivo atualmente, fazem com que há muito eu não passe por isso.  
Pensei também que a minha sorte é que eu me aceito como gay, estou bem grandinho e sei que esta discriminação não tem qualquer correspondência com verdades históricas ou sociais, apesar de ter chorado frente a situação. Mas e um adolescente ainda no armário por pressões externas, como vai reagir se passar por algo semelhante? Como vai conviver com esses colegas? Sabemos que há aqueles que ( dando um exemplo  radical, mas nem por isso menos verdadeiro) se suicidam ao passar por experiências discriminatórias. Onde, me respondam, onde há políticas públicas para combater o preconceito, a homofobia, a discriminação na escola? Como esses adolescentes vão aprender a conviver e a respeitar as diferenças? Onde ficou perdido o poder transformador da educação, em? Ficou perdido junto a uma remota greve onde o governo ignora totalmente que a educação básica chegou ao fundo do poço ou na subserviência de nossa presidente para com a bancada evangélica? Alias, é no fundo do poço que o governo quer colocar a educação superior, também?
 Eu espero que toda essa minha desilusão seja algo de momento. Quem sabe, naquela Segunda feira, eu só tenha acordado mais sentimental do que de costume.  Só quero que essa greve acabe de uma vez, que eu possa voltar logo pra cidade onde fica a minha universidade. E num desejo mais coletivo: que um dia tudo mude, pra melhor. 

26 julho 2012

Prazer, transformista

13 comentários
Dieison Marconi

Dei sim, dei tudo só pra ele. Hoje, por grana, pra todos. Não roubo, não mato. Mesmo assim me pergunto se não faço algo de errado." (Francisco Alvim)  
Michês?  Amantes anônimos?  Transformistas? Prostitutos ou homossexuais a procura de sexo fácil em uma pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul?  Em Frederico Westphalen, região do Médio Alto Uruguai, todos já ouviram falar das “bichas do centro” diz um menino sentado em minha frente, falando e rindo  para  um gravador,  mas que prefere ser chamado de Vitória quando sai nas  noites frederiquenses pra conseguir sexo.  Além dele, há outros, entre adolescentes e adultos, que costumam  fazer o mesmo:  travestidos de mulher, saem batendo salto alto atrás de uma companhia  pra noite, ou somente pra transar, pra conseguir dinheiro, ou  tudo ao mesmo tempo, pois segundo eles, é difícil para um gay  conseguir sexo em uma cidade pequena e interiorana como Frederico Westphalen, e assim,  recorrem  a prostituição para suprir esse desejo.
Saem em  dupla, em grupo ou raramente sozinhos, principalmente nas sextas, sábados e quando há alguma festa que provoque um grande movimento na cidade.  Saem sempre por volta das 12:00  da  noite, primeiro no centro, na Rua do Comércio. Após isso, vão para as esquinas ou para os locais onde há mais movimento devido as festas,  sempre procurando ficar mais visível  aos clientes, pra que estes possam chegar até eles sem serem notados por outras pessoas. O preço do programa varia: da mesma forma como podem conseguir 120 reais em uma noite com um único cliente, podem fazer de graça: basta o cliente ser bonito.

Fazemos programa mais pra dar um ar de mulher, né. Não por “precisão. Mais por boa vontade” (Kelli, 22 anos) 
Não se dizem profissionais do sexo e não saem todos os finais de semana.  Alguns fazem por dinheiro só quando precisam, quando julgam o cliente  feio ou  quando o mesmo tem a idade um pouco ultrapassada. Além disso, boa parte deles costumam trabalhar durante o dia em bares, lojas, restaurantes, como atendentes e garçons: o programa é pra conseguir prazer e sexo.  Muitos começaram a prostituir-se ainda na menor idade, geralmente influenciados por outros que já faziam programa.  Segundo Vitória, Lety foi o primeiro gay assumido e o primeiro transformista na cidade. Foi ele quem ensinou os outros gays a se prostituirem, no fim, todo mundo gostou,  e  criou-se o grupo.
Foi Lety também que batizou seus pupilos com nomes femininos: Vitória, Kelly Gisele, Samanta, Tina, Tainá.   Durante a noite, enquanto  estão tentando programa, atendem  apenas por estes nomes. Dizem não fazer programa com outros gays e nas relações sexuais são sempre passivos, a não ser que e o programa seja por dinheiro. Além do nome, travestir-se de mulher é importante pra  conseguir o programa de cada noite, pois os  clientes preferem assim: eles caem em uma fantasia tanto por parte dos clientes, que dizem ser “heterossexuais”, mas que gostam de transar com homens,  principalmente se estes estiverem vestidos de mulher, assim como por parte de  Kelli, por exemplo, que se  diz mulher usando roupas femininas, mas que não mudaria de sexo.  Já Gisele, um dos meninos mais novos do grupo, não queria nem  ter nascido homem. 

Por dinheiro eu acabo sendo ativa né, fazer o quê! Eles querem tudo da gente.” (Vitória, 16 anos.)
  A mãe de Vitória  sabe que ele se prostitui.  Os colegas da escola sabem apenas que ele é gay. Mas pra mãe, ele já contou algumas vezes que conseguiu dinheiro dessa forma, embora ela não goste.  O Pai de Gisele também sabe que ele faz programas, mas evitam conversar sobre isso.  Já Kelli, o mais velho, seus pais sabem e não veem nenhum problema nisso. Kelli diz que fez fama: todos sabem que ele faz programa, inclusive alguns chefes dos locais onde trabalhou.  Vai em lojas e compra roupas femininas, sapatos, maquiagem, bolsas e as vendedoras são suas amigas, sabem o que ele faz.   
Já Eduard não se prostitui como seus colegas, pelo contrário: apesar de não recriminar quem o faça, como opção individual abomina a prostituição. Veste-se de mulher apenas pra conquistar os homens e conseguir sexo, mas sem prostituir-se: “Eu detesto essa condição. Essa é uma condição que faço pra poder atrair os homens heterossexuais, o perfil de homem pelo qual eu sinto uma atração fatal.”  O perfil destes homens varia: de jovens a adultos, de solteiros a casados.

Assim, num jogo de sedução e prostituição feito pelas ruas de uma cidade interiorana, conservadora e católica, Gisele, Eduard, Kelli, Vitória são homens e meninos que se metamorfoseiam a partir da meia noite, “transforma-se” em mulheres por motivos diferentes e estão mergulhados em uma confusão ideológica do que é ou não ser gay, de desejos de se transformar em mulher, mas não abrir mão de ser homem, ou de ser homem, mas querer ser uma mulher, ou ainda: de travestir-se de mulher e ao mesmo tempo detestar isso.   

A vida me ensinou que se os homens não vem atrás da gente, a gente tem que ir atrás deles"  (Gisele) 

*Um dos textos (texto de apresentação) que fiz para uma reportagem multimídia sobre prostituição masculina com suas particularidades do interior.

19 julho 2012

Amor, sexo e cinema

6 comentários
Dieison Marconi
O Dia dos namorados já passou e o Dia do sexo ( data esta em  que uns comemoram, outros questionam e outros choram)  ainda está por vir, mesmo assim, a coluna de hoje vai tratar de cenas de amor homoafetivo no cinema mundial. Perambulando pelo meu Filmow, ao ver vários filmes com temática homossexual (ou não) e que em meio a trama lançavam mão de algumas cenas quentes, tórridas, românticas e sensuais, resolvi fazer da coluna de hoje uma lista com minhas cenas homoafetivas favoritas, sem pretensão de criar um lista como aquelas de “as cinco melhores cenas gays do cinema", pois não tenho tarimba pra isso e nem assisti a todos os filmes do gênero já lançados ou que simplesmente tenham uma ou outra cena que possa se enquadrar aqui. São oito cenas bem curtas, mas que variam entre o cinema espanhol, norte americano, francês, alemão e brasileiro. E são ótimas cenas!

A primeira cena trago mais pela importância do que pelo favoritismo. Ela data de 1927, está em preto e branco, é cinema mudo e nela está o primeiro beijo homossexual exibido na história do cinema. A cena é do filme Wings, no qual dois pilotos de combate  (interpretados por Buddy Rogers e Richard Allen) se acariciam e se beijam timidamente.  É uma cena que não esbanja tesão e sensualidade, mesmo assim, é um beijo em preto e branco que começaria a tirar a homossexualidade do gueto ainda  nos anos 20. Quando vi este filme, lembrei de mim lá em 2006, com 14 anos de idade, assistindo ao  Brokback Mountain e achando  tudo tão inovador (risos), sem saber que Broakbeck Mountain, de certa forma, já estava em Wings. Este filme foi o primeiro longa do cinema mudo ao receber o Oscar de melhor filme. Eis a cena do beijo:

Se o primeiro beijo entre dois homens acorreu em 1927, o primeiro beijo entre duas mulheres foi acontecer em 1931, no filme Machen in Uniform, e foi entre uma professora e uma aluna de 14 anos de idade. Mas foi, também, um beijo super tímido!  Foi o cinema  que  trouxe os primeiros “romances homossexuais" para as telas, antes mesmo da TV, já que nesta, o primeiro beijo entre gays foi acontecer apenas em 1960. Há também uma diferença um certa distância temporal entre o primeiro beijo e o primeiro beijo gay exibido no cinema, já que o primeiro data de 1896.  Veja a cena de Machen in Uniform abaixo. (Vale lembrar que este filme foi refilmado em 1958).

A próxima cena, é sem dúvida, umas das minhas preferidas, por três motivos: gosto do cinema francês, esta cena tem ótima fotografia, trilha sonora e atuação, e claro, a androginia do Louis Garrel. Poético e delicado, Les chansons de amour (As canções de amor, 2007) musical francês de Cristophe Honoré, substitui muitos dos diálogos por canções, o que me dá uma imensa vontade de ter o Garrel cantando Ma memórie sale ao pé do meu ouvido, como na cena a abaixo, na qual  Samuel (Louis Garrel) finalmente deixa-se levar pelo desejo de  Erwann (Grégorie Leprince).
Outra cena que não consigo apagar da minha memória cinematográfica é a do filme J’ai tué a me mère ( Eu matei minha mãe, 2009) com direção e atuação de Xavier Dolan.  A cena em questão, é uma explosão de cores. Notavelmente inspirada na arte de Jackson Pollok,  Hubert (Xavier Dolan) e Antonin ( Françóis Arnould) começam a pintar uma parede, e entre tintas e jornais, terminam em uma quente cena de amor.

Mais quente que a artística cena de amor entre Xavier Dolan e François Arnould, só mesmo a transa entre Ninna (Natalie Portman ) e Lilly ( Mila Kunis) em Cisne Negro (2010). Pra quem já viu o filme, uma cena tão quente quanto louca, e loucamente bem interpretada por ambas as atrizes. Não é a toa que Natalie levou o Oscar de melhor atriz pelo longa. 

A próxima cena, mais uma vez, não é uma cena de sexo, mas eu não tinha como deixar de fora a atuação de Heatch Ledger e Jake Gyllenhaal neste beijo desesperador. Não há como negar que O Segredo de Brokeback Mountain, é sem duvida, um dos melhores filmes já feitos abordando relações homossexuais, com roteiro, direção, fotografia e atuações incríveis. E O Heatch Ledger?! Ah o Heatch Ledger...
Obvio que não podia faltar uma cena de algum filme de Almodóvar, o problema é que NÃO é fácil escolher uma cena homoafetiva em um filme do cineasta espanhol, já que todos são repletos de cenas do gênero. Abaixo eu exibo a sensual cena da piscina no polêmico Má Educação (2004).  
Por fim, o Diabo rouba a cena, pois pra fechar a lista, não podia faltar uma cena homoafetiva do cinema brasileiro. Eis que surge, aí o biográfico Madame Satã (2002), gloriosamente atuado por Lázaro Ramos como protagonista ao interpretar João Francisco dos Santos Sant’ana, malandro, homossexual, transformista brasileiro. Madame Satã faz parte daquele seleto grupo de filmes brasileiros que merecem ser assistidos, lapidados, degustados.  Eis a cena, que é sim, de tirar o fôlego, excelentes atuações.   
Sinto que eu deixei muitos filmes e cenas de fora, só de Almodôvar teriam muitos outras, inúmeras cenas a cada filme. Faltou  também, por exemplo, o dançante final de Beautiful Thing, a descoberta do beijo  em Eu não quero voltar sozinho,  as picantes cenas da Penélope Cruz e  Charlize Theron em Três vidas e um destino,  Sheron Stone e Jeanne Tripplehom em Instito Selvagem e tantas outras cenas.  Quem sabe, em outro post, eu faça uma segunda lista.

Deixo o link para uma lista interessante (que não é minha) das melhores cenas lésbicas do cinema: http://letral.com/artigos/5-melhores-cenas-lesbicas-cinema



12 julho 2012

Maria nem sempre vai com as outras!

13 comentários
Dieison Marconi
         Sempre imaginei que há cristãos que remam contra a maré e não partilham do mesmo ideal de fieis que pregam o amor de um Deus, e em contrapartida, condenam toda a comunidade LGBT por um comportamento avesso a heteronormatividade, desencadeando assim, reações de ódio e  intolerância contra os mesmos, seja no púlpito de suas igrejas, seja fazendo uso de um sistema democrático para “legislar” contra o pluralismo, ou ninguém aí ouviu falar do projeto Cura Gay? 
        O cristianismo sempre foi sexofóbico: um homem e uma mulher não podem fazer sexo por prazer, mas sim para procriar, assegurar a existência da espécie. Quero saber quantos pastores evangélicos pensam o mesmo quando estão na cama com suas esposas.  Por que não usar preservativo na relação sexual? Por que sexo apenas para procriar e não pelo prazer? Por que essa dominação do corpo de homens e mulheres? Por que essas regras de como devem se comportar? Michel Foucault, meu queridinho das aulas de Comunicação e Pensamento Contemporâneo já dizia: “nada é mais físico, nada é mais corporal do que o exercício do poder (..) antes de colocar a questão como da ideologia, não seria mais materialista estudar  a questão do corpo, dos efeitos de poder sobre ele?!" 
         Agora, se um homem e uma mulher em uma relação sexual ( que pode gerar filhos) não podem transar por prazer, oh meu Deus, e dois homens ou duas mulheres, então? Lugarzinho certo e bem merecido no inferno! Não meus  caros, nem todos os cristãos pensam assim! E no vídeo abaixo, apresento-lhes o pastor evangélico Alexandre Marcos Cabral. O discurso de Cabral me deixa alegre  sim, pois são palavras que defendem a naturalização da homossexualidade, e que dessa vez, não partem de nós LGBTs, mas sim do meio cristão, quando muitos destes, nos julgam imorais, sujos e indignos. Prestem atenção nesses dois trechinhos da entrevista que ele cedeu ao Conexão Jornalismo:
Sobre o projeto Cura Gay proposto pela Bancada Evangélica 
“Não consigo entender como uma pessoa consegue ler a bíblia, falar que tem uma fé profunda em cristo e ao mesmo tempo ela consegue dizimar, perseguir filhos, parentes, amigos, por causa dessa condição sexual que é avessa à sua e legitimar isso em nome desse Cristo que nem tocou nesta questão e, pior ainda, toda a moralidade dele ta baseada, justamente, não na tolerância – porque a tolerância é um ódio bem administrado – mas no respeito e numa valorização da diferença.”
O que ele diz sobre a  Bíblia, seus dogmas e conceitos 
 “A bíblia manda matar o homem que não tem barca, pessoas que comem crustáceos, as mulheres que ficam menstruadas devem ficar em casa o dia inteiro até 7 horas da noite, se tocarem na parede, mais 7 dias... Tudo isso tá na bíblia, por que as pessoas não seguem? Eu não vejo nenhuma mulher trancada em casa porque está menstruada e não me consta que nenhum pastor faça isso com suas mulheres e deixem de raspar a barba porque leem esses textos, e esses textos, por sinal, estão ao lado do texto que fala contra a relação entre homossexualidade e idolatria.  
Se a gente for levar ao pé da letra, então ta na hora da gente dizimar metade dos homens da humanidade porque fazem a barba e mais ainda uma grande parcela da humanidade porque comem crustáceos.
Vejam o vídeo da entrevista, que tem  apenas 12 minutos. 


17 maio 2012

Meu tempo não parou: amor em tempos de Aids

7 comentários
Dieison Marconi

Um ex ativista gay, dois empresários de casas noturnas, duas travestis e uma mulher. Seis histórias com muitos pontos em comum: a cena e o comportamento gay em Porto Alegre durante as décadas de 70, 80 e 90. A pegação, as casas noturnas, as amizades, o sexo, o preconceito, a chegada da AIDS, um tempo que ainda não parou. Meu tempo não parou: amor em tempo de Aids é daqueles documentários que você senta pra ver e acaba sendo conduzindo a uma narrativa que oscila entre a ratificação de que não se deve envergonhar de suas verdadeiras cores e ao mesmo tempo, como pessoas sem medo de viver o que eram, foram marginalizadas e mortas pela desinformação, pelo preconceito e pelo HIV.  

Hoje,  17 de maio, o Dia Internacional da Luta contra a Homofobia é lembrado como o marco em que a Organização Mundial, em 1990, retirou o termo “homossexualismo” da Classificação Internacional de Doenças (CID), reconhecendo que “a homossexualidade é um estado mental tão saudável quanto a heterossexualidade”.  Meu tempo não parou se localiza justamente pouco antes desse avanço, especificamente em Porto Alegre. Marcely Malta, Dilnei Messias, Dheyser Veiga, Veruska, Bento Rocha, Edna Keitel e Gerson Winkler são as personagens desta história. Por vezes, as entrevistas intercaladas uma a outra podem tornar-se cansativas, no entanto, o enquadramento do filme (em grande maioria closes e primeiro plano), evidenciam um emocional, um íntimo dos entrevistados que vão desde as locações que se deram em lugares afetivos para os personagens-sociais, como por exemplo, o Parque da Redenção, a casa noturna Flowers, o teatro, suas próprias casas, bem como as palavras e as histórias do que cada um  fez, viu e sentiu durante algumas décadas coloridas e arrasadas.

Entre os entrevistados no documentário, surge uma foto da época que ganha status de personagem. Nela há a visão mais fiel  do vírus do HIV como uma praga gay:  um homossexual  vitimado pela AIDS é carregado em uma maca por um grupo de médicos que portam máscaras, luvas, botas, capas e outras formas de proteção. Pânico e desinformação geral. Como funcionavam as casas gays em Porto Alegre? Como estas sobreviviam ao conservadorismo e ao período ditatorial? Como sair na rua como travesti na época? Onde e como transar com seu parceir@? Como era ver seus amigos de livre e espontânea vontade se sujeitando a métodos médicos que prometiam a cura da homossexualidade? Como era ver amigos e familiares morrendo devido a AIDS sem saber realmente, o que isso era, mas que mesmo assim, dizia-se (revista Veja na Época) que era uma praga gay?  
Tudo se embaraça como lembrança e reflexão em um documentário que dura pouco mais de meia hora, mas que nos mostra, que apesar de todos os problemas que gays, lésbicas, travestis, transformistas, transexuais e todas as facetas da diversidade sexual humana ainda enfrentam, evoluímos muito.  É fato que ainda há muito por mudar, mas evoluímos. O que parece ser realmente o mesmo daquela época para agora, é  que vivenciar sua própria sexualidade marginalizada, é felicidade enobrecida.    

Fica a sugestão pra quem se interessou: Meu tempo não parou- Direção Sílvio Barbizan e  Jair Giacomini- (Nuances-2008)

10 maio 2012

Turbulência no cinema: Bette Davis X Joan Crawford

12 comentários
Dieison Marconi

Uma foi a personificação da maldade nas telas do cinema, tinha um par de olhos esbugalhados, dona de um olhar blasé e melancólico que se tornou música na voz de Kim Carnes. Foi também uma mulher com um temperamento difícil ao extremo. A outra, de uma beleza exuberante, foi a mocinha nas telas e segundo as más línguas e rumores da imprensa da época, a personificação da maldade na vida real. Ambas divas do cinema norte americano nas décadas de 50 e 60, se odiavam de maneira recíproca e  fizeram um único filme juntas O que terá acontecido com Baby Jane?

Bette Davis- (Foto divulgação)
Falo de Bette Davis e Joan Crawford. Bette ficou conhecida por suas atuações invejáveis interpretando personagens malvadas, em que o lado negativo destas, chega a ser belo e vibrante ao ver o que foi essa mulher em cena. Vencedora do Oscar de Melhor atriz pelos filmes Dangerous e Jezebel e dona do maior número indicações ao Oscar na época (cinco vezes consecutivamente), Davis também foi premiada como melhor atriz no Festival de Cannes pelo seu filme All About Eva (Tudo sobre Eva, 1950) e que aqui no Brasil recebeu uma das piores traduções: a Malvada. Bette é considerada a segunda maior lenda feminina do cinema pelo American Film Institute, perdendo apenas para Katherine Hepburn.  Entre as homenagens que já recebeu, está  o filme Tudo sobre minha Mãe, 1999, de Almodóvar, onde algumas das falas como as da personagem Huma Rojo (Mariza Paredes)  fazem referência ao trabalho de Bette como atriz:
Comecei a fumar por causa da Bette Davis. Aos 18 anos fumava como uma chaminé. (Huma Rojo, em tudo sobre Minha mãe.) 
Sempre dependi da bondade de estranhos. ( Huma Rojo repetindo a frase de Bette como Margot, em Tudo sobre Eva.)
 No inicio de Tudo sobre minha mãe de Almodóvar (a semelhança dos títulos não é mera coincidência) a personagem principal discute com o filho sobre a tradução mal feita do título do filme em que Bette Davis atua (Tudo sobre Eva para a Malvada) o que contribuiu para aumentar a imagem de Bette como uma mulher malvada e insuportável, justamente em um filme que ela era a vitima. Tudo sobre Eva ou a Malvada é um dos filmes mais premiados do cinema hollywoodiano, com um roteiro, diálogos, cenas e personagens inteligentes, nada do ostracismo que as vezes vemos nos atuais filmes norte-americanos.  
Para sentir um pouco do gênio, temperamento e humor de Bette Davis, aí vão algumas de suas frases mais famosas, proferidas tanto por suas personagens como por ela mesma. Primeiro a  frase original, depois a tradução.
“Yes, I killed him, and I’m glad, I tell you. Glad, glad, glad”.

“Sim, eu matei ele, e estou contente. Digo-lhe, contente, contente, contente ( No filme a Carta)



“Sobre Joan: “She has slept with every male star at MGM except Lassie.”

Ela já dormiu com todos os astros da MGM, exceto Lassie.


“Why am I so good at playing bitches? I think it’s because I’m not a bitch. Maybe that’s why Miss Crawford always play ladies.

”Porque sou tão boa interpretando vilãs? Deve ser porque não sou uma vilã. Talvez   por isso a Sra Crawoford sempre interpreta mocinhas. “

"Gary was a macho man, but none of my husbands was macho enough to become mr. Bette Davis."

"Gary era um macho man, mas nenhum de meus maridos foi macho suficiente para se tornar o Sra Bette Davis."



"Never say bad things about someone who is dead. Only good things. Joan Crawford is dead. Great!" "Just because someone is dead who became a better person!"

"Nunca se deve falar coisas ruins sobre alguém que está morto. Apenas coisas boas. Joan Crawford está morta. Ótimo!" "Não é porque alguém está morto que se tornou uma pessoa melhor!" (quando sua Joan morreu em 1977)


Joan Crawford and I have never been warm friends. We have never been nice. I admire her and at the same time, I'm uncomfortable with it. To me, she is the personification of a movie star. I always had the impression that Crawford was his best performance playing Crawford. "
"Joan Crawford e eu nunca fomos amigas calorosas. Nunca fomos simpáticas. Eu a admiro e, ao mesmo tempo, sinto-me desconfortável com ela. Para mim, ela é a personificação de uma estrela de cinema. Eu sempre tive a impressão de que sua melhor performance era Crawford interpretando Crawford.

"I would not piss on it or if it was on fire." "Eu não mijaria nela nem se ela estivesse em chamas."
"Fasten your seatbelts, it's going to be a bumpy night!”
Apertem os cintos, hoje a noite será turbulenta ( Como Margot, em Tudo sobre Eva)
Joan Crawford (Foto Divulgação)


Mas Joan Crawford também não era fácil. Indicada três vezes ao Oscar de melhor atriz, em 1945 por Almas em Suplício, em 1947 por Fogueira de Paixões e em 1952 por Precipícios D'Alma. Venceu em 1945 e participou de outros filmes de sucesso como Johnny Guitar e O Que Terá Acontecido a Baby Jane? Ao contrário de Bette, Joan interpretava personagens boas, mocinhas e vitimas, quando na realidade boatos sobre a permissividade com seus filhos eram assustadores. A atriz que hoje ocupa a décima posição das maiores lendas femininas do cinema, segundo a própria filha, violentava seus quatro filhos adotivos. No seu testamento, escrito pouco tempo antes de sua morte, Crawford deserdou os seus dois filhos mais velhos, Christina e Christopher, legando uma parcela mínima da sua fortuna aos outros dois. Após sua morte, sua filha mais velha Christina Crawford, publicou o livro Mommie Dearest (Mamãezinha Querida), um livro autobiográfico best-seller no qual descreve Joan como péssima e abusiva mãe. Segundo Christina, a mãe era alcólatra e não tinha nenhum afeto pelos filhos, que teria adotado apenas para fins publicitários. O livro, bastante polêmico, foi levado às telas com Faye Dunaway no papel de Crawford.
Bette e Joan-O que terá acontecido com Baby Jane? (foto divulgação)


A rivalidade entre Bette e Joan não era marketing como acontecia com as cantoras na era de ouro do rádio brasileiro. Odiavam-se de forma recíproca. Ambas entraram para o cinema na mesma época. Antes deste, Davis era atriz de teatro e Joan, linda e exuberante, era dançarina de strip-tease. Durante as gravações de O que terá acontecido com Baby Jane? (Unico filme em que trabalharam juntas) Bette fazia questão de ter consigo no estúdio, uma garrafa da Coca-cola, justamente para afrontar Joan que era viúva do maior acionista da Pepsi.  Em cena, era um duelo de atuação. Bette é impecável atuado com uma mulher velha, resignada e  neurótica que tortura diariamente sua irmã cadeirante que é uma ex atriz de grande sucesso, interpretada por Joan.  Durante o filme, perguntas ficam ao ar do inicio ao fim:  quem   realmente é a irmã perversa?  De quem é a culpa da personagem de Joan ser paraplégica? O que aconteceu com Baby Jane? O filme, que é todo em preto e branco, contribui para o suspense e para o terror de algumas de cenas. Acima de tudo, os diálogos, a produção, o enredo atuação de Bette e Joan são é impecáveis. Ódio na frente e atrás das câmeras.

03 maio 2012

O dia, o mofo e o moço loiro

7 comentários
Dieison Marconi
                      
           Escrever aqui no Para Ladys tem sido de alguma forma, um escape entre as matérias jornalísticas que tenho de entregar até Quarta-feira e também entre as novas pautas que tenho de começar a trabalhar na Sexta, afora outros trabalhos acadêmicos.  Digo isso, pelo motivo de que escrever um texto que fuja um pouco dos textos acadêmicos é sempre bom, é sempre novo, sempre diferente. Escrever um conto, por exemplo, é desmistificante: é como ver histórias e personagens nascerem e frutificarem ao longe de onde foram plantadas, afinal, de onde elas surgem realmente? Dos momentos que você vive atualmente ou de qualquer história quase esquecida no teu inconsciente? Por isso, hoje resolvi trazer um conto pra vocês, que se chama O dia, o mofo e o moço loiro. Espero que gostem! 
                                                  
Acordou. Simplesmente acordou. Essa talvez  seria  a sua única atitude  positiva do dia. O resto seria todo de negativas. Não, não havia  lido  nenhum capitulo  de  negativas  de algum  escritor  mestre do realismo  brasileiro. Não, no máximo lia rótulo  de cerveja, nomes de  cigarros,  nome de  cachaça  e lia também os olhares  que os  homens  do  bar voltavam-se  para  suas pernas, bunda  e  seios.   Acordava bem. Mas  a partir  daí,  era   levantar da  cama  para  as coisas  irem  desandando, desandado... Dormia  nua  e nem  se importava  com o frio  sulino que mofava  a parede e o teto branco  do quarto. Quarto feio  aquele. As paredes  brancas mofadas em dias de chuva transpiravam um água lenta, quase  verde. Seus móveis, um guarda-roupa velho quebrado com recortes de revistas antigas.  Um guarda-roupa que era de uma tia  encalhada e que lhe dera  de presente  olhando  para  seus  seios   que apontavam crescendo  por dentro  de um vestido quase transparente, um vestido velho  e também   dado.  Dormia nua sob um lençol e mais um edredom que cheirava a mofo, uma mistura  de cansaço, frio  e suor.     
             
 Era acordar, vestir-se e ir para o bar.  Era sábado, 8:30  da manha e  ela  já podia  ouvir  os clientes  chegando, uns  já  vinham bêbados, já haviam  brigado  em casa, outros  iam  beber  e depois  iam  pra casa bater na  mulher. Outros vinham atrás de mulher, outros  vinham  atrás  dela e com  desejo  de  besta  passavam as mãos  nas suas pernas, olhavam  para  seus  seios  ao servir  a  mesa. E  ela olhava  para  eles também. As vezes perdia-se  olhando  para  aqueles  homens bêbados, aqueles  estereótipos  mesmo: camiseta  aberta e fedendo  a cigarro  e a bebida, camiseta  aberta  mostrando um peito cabeludo  também  fedendo  a cigarro, bebida, deboche, desejo. Ela vestia-se. Colocava um vestido. Colocava o vestido lembrando de quem falava  que ela  usava  vestidos apenas  pra  se mostrar  aos homens. Havia  conversa também  de que quando era  mais  jovem fazia  programa. Mas no fundo, ninguém sabia se  no passado  ela havia  sido  prostituta  ou  não. A única  certeza  que  tinham era  que  ela  era  a dona  daquele bar de esquina,  que  servia  a mesa  de um bando de  macho bêbado.  Mas ela, colocando o vestido, olhava para o espelho e orgulhava-se com um  riso de canto e com  olhos amarelos  e  duros, de que  nenhum  homem  daquele bar  tinha feito  sexo  com ela, não havia ido pra cama  com nenhum deles.  

É que esperava alguém.  Esperava quem sabe um moço loiro, de  dentes  brancos  e sorriso largo. Mas como ia encontrá-lo? Ela mofada e amarela, fedendo  a mofo, cigarro, suor  e bebida  dentro  daquele bar...  Aquele  bar  não era lugar  de moço loiro  com dentes  brancos, e  se fosse, ele ficaria  que  nem ela:  loira, mas  suja, suja  e  mofada. Ela não gostava  dos dias, eram os mesmos  copos, os  mesmos  bancos, os  mesmos  rostos de sempre, mas  sempre, o mesmo  cheiro , o  mesmo  ar. E quando  vinha  a noite, apenas  se  acrescentava  a preocupação de  alguma briga  entre aqueles  homens  fedorentos.  Mas vinham mulheres  também. Organizavam-se e  vinham, bebiam, falavam  alto e gritavam  pedindo  mais  bebida. Quando  isso acontecia, principalmente  nas sextas  e  sábados, ela  chamava  dois  meninos pra  ajudá-la  no atendimento.  E  acostumava-se  a  tudo aquilo, cansada  e  mofada  de tudo, mas  acostumada.  As  vezes, um  dos rapazinhos  que  lhe ajudava  a  servir  as mesas  nos  dias  de maior  movimento  lançava-lhe  uns olhares agudos e “apaixonados”, os  quais ela ignorava  sorrindo.  Não se interessava por ninguém, exceto pelo  moço loiro  de dentes  brancos.  

Mas sentia  falta  de homem, sentia falta  de sexo.  Teve  poucos namorados  antes de  montar “aquilo   ali”, mas desconectada, não ficava  com ninguém, não conseguia, fugia. Mas aí,  a noite  em sua  cama  enfiava os  dedos  em seu sexo  até  sentir  um  quase- prazer, um  quase orgasmo, um quase  tudo.  Depois  tirava  os  dedos  úmidos  e chorava. Hoje  masturba-se  gemendo  comprimindo  a mão     dentro do sexo  entre  as pernas  e tudo  bem. Tudo bem, até vir o dia, e vem, vem, vem mofado e  amarelo.  A noite  mofada e  escura  sem o  moço  loiro  de dentes  brancos. Há muito não fala com os pais. Imaginava  eles  a  chamando de puta, vagabunda.  Mas  não se  importava.  Um   de seus  irmãos, o mais  novo  dos  meninos  lhe telefonara  em uma daqueles semanas passadas, bem  passadas. Estava morando na capital. Casado. Com outro homem. Estava trabalhando. Queria adotar uma criança. Estava Fe-liz. E Perguntou  como ela estava, disse  também que sentia saudades dela.  Ela falou pouco, intervinha  pouco  na fala  do irmão, não  se expressou nem feliz, nem alegre, nem triste.  Mas havia tempo  que  alguém  não dizia  que  sentia  saudades  dela. Quando o irmão  desligou o telefone, ela  ainda permaneceu  com o  aparelho  colado ao rosto, esquecida. 

Quando  voltou, pensou  apenas  que  alguém  andava  feliz.  Falava pouco com seus outros irmãos. Uma continuava morando com os pais, casada, chifruda, com filhos.  O outro  irmão  as vezes  até  aparecia  por  ali.  Trabalhava, tinha um carro  bacana, tinha  um  sorriso jovial. Casado. A esposa era um coisa  magricela  que  sorria demais. Não eram ricos, não eram pobres.  Ela  não  era  rica, ela  não  era  tão pobre. Mas  só  ela era mofada. Mofada e  amarela, suja  e mofada.   Sonhava pouco,  dormia  muito  a  noite. Mas  das raras vezes  que sonhava, acordava, ia pra  cozinha  e tomava  um copo d`água. Gosto  de ferrugem  com resto  de  sonho.  Já sonhara  que passava na banca  do  senhor Marcinho e  comprava  aqueles  livros  com uma  capa  bem desenhada , com títulos grandes  e redondos e   que contavam   histórias  de gente  loira  que se  amava. Mas não de gente loira encardida que nem ela.  Sempre pensou  em  comprar  um  livro daqueles.  Mas desistia  sempre da idéia  como  uma criança que recusa um doce. Certo dia o livreiro lhe deu um livro de uma tal de Hilda Hilst.  Gostou do título (Contos de Escárnio) e começou a ler. Lia com dificuldade, mas de repente, como se transportada para outra esfera que não aquela que vivia diariamente, encontrava contida nas páginas do livro, revivendo a cena:  “compre manteiga. Passe-a nos dedos. (Esqueça-se de Marlon Brando.) Chupe-os. E diga em tom de oração: que vida solitária, meu Deus. (Contenha-se)." 

Ela não sabia direito quem era Marlon Brando, mas por qual móvito ela não poderia dar um gosto mais literário pra vida? Mas eram sonhos. E as vezes  sonhava com sexo , com algum  homem  do bar. E por isso, sentia-se bem  quando  esquecia  dos  seus  raros  sonhos.  Quando  acordava  sobre saltada por  um  sonho,  sentia  algo  entalado  na garganta. Talvez  fosse  choro, talvez  fosse raiva, talvez  fosse  mofo.  Tomava água  com gosto  de   ferrugem. Ia pra cama. Amanha  ia acordar.  Acordou. Simplesmente acordou. Essa  talvez  seria  a sua única atitude  positiva do dia. O resto seria  todo  de negativas. Não, não  havia  lido  nenhum capitulo  de  negativas  de algum  escritor  mestre do realismo  brasileiro. Não, no máximo lia rótulo  cerveja, nomes de  cigarros,  nome de  cachaça  e lia também os olhares  que os  homens  do  bar voltavam-se  para  suas pernas, bunda  e  seios.   Acordava  bem. Mas  a partir  daí,  era   levantar da  cama  para  as coisas  irem  desandando, desandando...

26 abril 2012

Chega de saudade

11 comentários
Por Dieison Marconi
@Dieimarconi

       Quem aí gosta de MPB? A maioria dos meus amigos gays fazem me sentir um estranho no ninho quando assunto é música, já que eles fartam seus ouvidos com as vozes das divas do POP. Eu também gosto delas, só que não na mesma proporção. É por este motivo que hoje o assunto desta coluna é a tão nossa Música Popular Brasileira. Mas sem esquecer, claro, um item muito importante em meio a tantas vozes tupiniquins: os homens, os novos talentos masculinos da MPB, pois enquanto Nana Cayme diz estar decepcionada com o rumo que esta tem tomado, eu acredito que a Música Popular Brasileira tem um novo sopro, belo e revigorante.
        Não estou dizendo que nossos novos músicos são melhores do que a geração de Chico Buarque, Elis, Caetano, Gil e Gal. São diferentes.  Música também é retrato de momento histórico e o momento histórico de hoje é outro, assim a MPB também é. Pois chega de saudade: entre as talentosas mulheres  como Ana Cañas, Maria Rita, Fernanda Takai, Vanessa da Mata, Céu, Tiê, Tulipa Ruíz, Roberta Sá, surgem os moços  Marcelo Geneci, Dudu Tsuda, Tatá Aeroplano, Filipe Catto e Thiago Pethit. E é devido ao meu encanto musical por Catto e Pethit que a coluna de hoje vai tentar não se tornar uma  “rasgação de seda”.  
Filipe Catto fotografado por Yuri Pinheiro
      O cantor gaúcho Filipe Catto lançou no final de 2011 seu primeiro disco: Fôlego. Antes, Catto havia lançado O EP Saga, um disco não comercial, somente com o intuito de divulgar seu trabalho. O EP foi inclusive disponibilizado pra download e dele, Catto conseguiu emplacar uma composição sua na trilha sonora da novela Cordel Encantado na Rede globo, o que lhe deu uma inegável visibilidade.  Mas Filipe é uma cantor de palco, é um poeta, um  Rimbaud do século XXI de voz única: aguda de contra tenor, um timbre feminino inconfundível  muito incomum da música popular. (Nesse caso, nossa referência maior é Ney Matogrosso). Em suas músicas, sejam elas composições suas ou não, Filipe é intenso, quente, dolorido e singular. 
       Em fôlego, das 15 canções que fazem parte do álbum, nove delas são composições suas, com destaque para Adoração.  Mas Roupa do corpo, Redoma, Juro por Deus e Crime Passional não deixam a desejar. São músicas que nascem no samba, passam pela MPB, dançam com  o Jazz e deságuam  no Tango e em outros ritmos latinos. Catto também abusa do seu talento ao dar uma roupagem completamente nova ao interpretar músicas de outros compositores.   Rima Rica, Frase feita de Noel Rosa, Nescafé da também gaúcha Apanhador Só e a brega Garçon de Reginaldo Rossi ganham uma nova e autêntica interpretação:  Filipe, com em seu fôlego primaveril de 23 anos  consegue outro tom, outro  som, outra  música. E quanto a música Garçon, ele mesmo diz: as pessoas  não gostam do brega, porque  ele é brutalmente honesto.  E para que mais honesto do que cantar: hoje o meu grande amor vai se casar, me mandou uma  carta pra  me  avisar, deixando em pedaços  o  meu coração?!      
       Já o paulista Thiago Pethit, ao mesmo tempo em que une MPB e POP a um apaixonante Folk, brinca com uma musicalidade dos cabarés de Berlim  anos 20 e com o  Can Can Texano.  Pethit, que já foi bem elogiando por ninguém mais ninguém menos que Caetano Veloso, além de português, canta em inglês e Francês, já fez participações no Som Brasil e lançou seu primeiro disco “Berlim, Texas” em  2010, tendo assim como Catto,  um  EP  como seu primeiro trabalho, o  Em outro lugar. 
Thiago Pethit fotografado por Gian Franco Briceño Arivelo
Juntamente com outros paulistas com Tulipa Ruiz, Tiê, Marcelo Camelo e Tátá Aeroplano, Thiago Pethit  faz parte de um grupo de jovens cantores que não estão dando apenas um novo sopro a MPB, mas inventando a MPP (Música  Popular Paulistana). Pethit também canta e encanta pelos palcos brasileiros, compondo e interpretando. Músicas como Em Outro Lugar, Birdhouse, Nightwalker, Mapa-Mundi, Fulga, o Último a saber são músicas que valem a apena ouvir, cantar  e comprar o CD, um objeto raro no mundo dos downloads. Com o videoclipe de Nightwalker Thiago consquistou um indicação ao MVB 2011 como melhor videoclipe do ano.    Ouvindo Pethit cantar, tu podes perceber uma sonoridade muito parecida com as músicas da banda Beirut.  Há de se destacar aqui também Thiago Pethit cantando Essa canção francesa e algumas letras de John Lennon com a cantora Tiê. 
 E Nesta semana para se despedir do Berlim Texas, Thiago lançou o videoclipe da cantante e silenciosa Não se vá, logo, logo teremos novo trabalho dele por aí.
      Acredito que Filipe e Thiago, assim como Marcelo Geneci, inauguram uma nova maneira de se ver os novos talentos masculinos da MPB, que até então, eram vistos  muito mais como compositores do que como intérpretes. Tanto Filipe quanto Thiago compõem e interpretam, sem disciplinar-se para ficar em apenas um dos dois lados. E o mesmo ocorre com as mulheres, que deixaram de ser vistas somente como interpretes, mas também compositoras. Pethit e Filipe também nos mostram que a MPB ainda vive, que minha geração pode sim gostar da MPB e que para isso não precisamos ficar somente presos a "monstros já consagrados" e que podemos consagrar nossos próprios cantores.  Aqui segue o link   http://filipecatto.com.br do site do Filipe Catto e aqui http://www.thiagopethit.com/ do Thiago Pethit. A parti daí vocês podem ter acesso às redes sociais de ambos, pois já que a MPB não tem muito espaço na mídia tradicional brasileira, estes tão jovens cantores podem ser encontrados no Facebook, no Twiter como forma de divulgação do seu trabalho.  Assistam abaixo  Thiago Pethit cantando Mapa-Mundi e Filipe Catto com Adoração. Cuidado para não se apaixonar!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...