Dieison Marconi
Mulheres
fálicas, homens vaginais. Quem quer (e
precisa) viver classificado? Quem tem
medo de ficar boiando por aí? Ter um
pênis (pau, pica, pinto seja lá o que você chama) não te faz homem? Não, não
faz. Ter uma vagina, (xoxota, boceta ou siririca, chame como quiser) não te faz
mulher? Não, não faz. E não faz porque não é tua genitália que decide teu gênero,
e este, é mais do que qualquer condição biológica, é mais do que se convencionou
socialmente ser masculino e feminino. Homens não são de Marte, mulheres não são de
Vênus. Vivemos um momento de desconstrução de tudo que é definido? Um momento de desconstrução de tudo que é construído,
de uma sociedade fálica? E agora, que
qual será o lugar do falo?
E
não sou eu quem diz isso. Quem diz, são pessoas como o transexual australiano Buck Angel , este aí na foto acima. Ele diz: “estou
mostrando que as coisas não são assim tão limitadas. Você não pode negar que
sou completamente homem. Quando estou transando com um homem, parece uma transa
gay. Mas você vê um pênis penetrando uma vagina, então... é uma relação hétero
ou o quê? Curioso, não? E as pessoas odeiam quando as coisas não cabem nas suas
caixas classificatórias... e na verdade me sinto um garanhão que tem uma
vagina!”
Quem
diz isso são identidades marginalizadas que lutam para assumirem um discurso
naturalizado, para debelar uma mentalidade de
uma sociedade falocêntrica que é vergonhosa quando não reconhece que gênero não é
definido pelo que você tem no meio das pernas, e
que nisto, desrespeita direitos humanos, como aconteceu com Cece,
norte americana, negra, mulher,
transexual. Foi vitima de agressão, repressão
e acabou presa feito uma criminosa
somente porque era é mulher, negra, transexual, com um pênis. Ué, mas ela não era a vitima? Conheça a história aqui
Quem
diz isso, não sou eu. Quem diz isso, é João, que antes era Joana. Homem com J maiúsculo.
Joana virou João em 1977, a primeira
mulher transexual a mudar de sexo no Brasil, que desde os quatro anos de idade,
embora preso em um corpo de mulher, era um homem, se identificava com o gênero masculino. E ele diz: “a
nossa cultura infelizmente só concebe o binarismo homem x mulher. Os pais,
quando detectam o sexo do bebê, já escolhem o nome e o gênero que este deverá
seguir: os brinquedos (boneca para as meninas e carrinho para os meninos), a
cor das roupas e como deverá se comportar. Todos já nascem “cirurgiados”. Veja mais aqui, na trip
Quem diz isso, não sou eu: é o pai que resolve usar saia para apoiar o filho que
gosta de usar vestido, e que neste lindo ato de amor e respeito para com o
diferente, diz: sim, eu sou um daqueles pais que tentam criar seus filhos de
maneira igual. Eu não sou um daqueles pais acadêmicos que divagam sobre a
igualdade de gênero durante os seus estudos e, depois, assim que a criança está
em casa, se volta para o seu papel convencional. "É absurdo esperar que
uma criança de cinco anos consiga se defender sozinha, sem um modelo para
guiá-la. Então eu decidi ser esse modelo". Leia aqui
Por qual motivo eu trouxe essas histórias, essas pessoas e este assunto? Podem achar que eu sou uma bicha revoltada, mas na semana passada achei o Rio Grande do Sul o estado mais ignorante, preconceituoso e segregacionista do mundo. O RS, se comparado a muitos outros estados, ainda é um dos mais tolerantes para com a diversidade sexual, mas semana passada era semana Farroupilha, 20 de Setembro, momento de exaltar o gaúcho, o macho, o homem viril, o forte, o homem fálico, guerreiro, uma terra de machos...e machos. Momento de exaltar uma guerra perdida, de colocar o bairrismo nas alturas, momento de passeatas que já expulsaram homossexuais das cavalgadas da nossa "grande semana Farroupilha." Momento de comemorar uma cultura construída, que insiste em nos colocar frente a ideologias arraigadas e conservadoras. Quem diz isso, não sou eu que também sou gaúcho. Quem disso é o próprio Rio Grande Sul, que há pouco tempo Aprovou o uso de carteira social para travestis e transexuais . Por isso que, se me orgulho de ser gaúcho, é por atos humanistas como este, não por um tradicionalismo arraigado e preconceituoso, que ignora todo o manancial cultural que é o nosso estado, toda a diversidade de pessoas que existem aqui, não por uma cultura que sinceramente, NÃO é minha identidade, que não nos representa. Se o Rio Grande do Sul é tradicionalista, se o gaúcho é macho, eu digo: o Rio Grande do Sul também é colorido, o gaúcho é gay.
"Eu sou de vânia e de vênus, eu sou de pedro e de marta, eu sou de lia, sou de leão, sou de Aires e de Iris, eu sou da terra e vivo a vida, eu sou de vera, sou de verão." (Gustavo Galo / Tatá Aeroplano)
É preciso mais que um soco pra se fazer um som, um homem, um filme. É preciso seu amor, seu feminino, seu suingue. Pra ser bom de cama é preciso muito mais do que um pau grande. É preciso ser macho, ser fêmea, ser elegante. (Thais Gulin- Cinema americano)
Não sou anônimo, mas minha identidade google, blog que nem sequer levei a cabo chama-se "Nasty Joe". Adorei a proposta-surpresa do blog. Surpresa porque abre portas até na cabeça de quem já acha que tem a "cabeça feita", como eu. Adorei o artigo do Dieison pelo conteúdo e pela forma. Ele escreve sobre um tema delicado, mas com informação, empolgação e seriedade. Belíssimo aquele transexual super homem panetera camaleônica. Bem, ele é lindo. Por hoje, vou ficar com as emoções desse blog que faz a gente viajar e ao mesmo tempo contemplar. Abs e parabéns a todos e ao Dieison, em especial. José Solon, contramanorider@hotmail.com
ResponderExcluirParabéns Dieison, adorei o teu texto. Infelizmente ainda vivemos em uma sociedade machista, na qual a masculinidade é reafirmada pela violência, e ser masculino é ser macho viril.
ResponderExcluirMuito bom o seu post, acho que essas reflexões são importantes para discutirmos essas questões em torno de preconceitos que estão sendo desconstruídos, mas de uma forma muito lenta. Acredito que essas concepções do que é ser homem e mulher já deveria ter mudado a muito tempo.
ResponderExcluirfantástica esta postagem ... importante e oportuna ...
ResponderExcluirquerido amigo, obrigado pelo carinho de sempre por lá ... bjão
Você me surpreende sempre rapaz.... e sempre pra melhor. Um belo texto e com uma fotografia(ilustração) impactante, digamos assim.
ResponderExcluirA construção ou desconstrução do que se é homem ou mulher é um processo complicado. Sempre dizemos aqui em casa que minha mãe não teve 5 filhas... mas 5 filhos. E não no sentido físico da coisa, mas no sentido moral, intelectual,sábio da vida.
Ter um pênis ou uma vagina e os usá-los normalmente não nos faz realmente homens ou mulheres.
Assunto a se refletir... post a se guardar. Ler e reler.... muito.
Abraços Dieison.
Ótimo texto e sempre uma temática impactante e não tão falada por muitos. Há muito o que ser debatido ainda e enfim chegarmos a entender o que não para de ter que aprender com todas as diferenças existentes.
ResponderExcluirAbraços!
Outro dia, ouvi um pequeno absurdo nesse sentido de "encaixotar pessoas em conceitos nada flexíveis" e nem me dei conta na hora. Só depois, refletindo sobre aquilo é que fui notar... Fico pensando o quanto a gente está imerso numa cultura sexista que nos dificulta ver com outros olhos e nos abrir pra novas possibilidades...
ResponderExcluirAbração!
Essas relações homem + mulher são relações construídas historicamente e fortemente enraizadas na nossa cultura, para a qual existe um modelo bom e o oposto que é ruim, tudo que foge do padrão heterossexual é ruim. No entanto, estamos em um momento que mais do que nunca esse modelo tradicional é questionado e se abre espaço para outras formas de ser e pensar.
ResponderExcluirexcelente texto, deixa eu correr pra divulgar.
ResponderExcluirmuito bom seu texto.
ResponderExcluirleva a boas reflexões!
Oi, tudo bem?
ResponderExcluirMenino, texto fantástico esse.
Bjo
Adorei o Blog e estou a seguir. Muito interessante os assuntos debatidos e o template do site está mesmo bom. :)
ResponderExcluirhttp://relogiosemponteiros.blogspot.pt/