19 abril 2012

Tarefa escolar: pra não dizer que não falei de diversidade sexual

Dieison Marconi 
@Dieimarconi

Ensino médio. Conversas durante intervalo, corredor tumultuado. Acho que eles se encontraram Lendo Nietzsche. Um em cada banco, depois de um lanche seco no refeitório onde não haviam se cruzado. Olharam um para a capa do livro do outro e riram, pela coincidência. Eu que também lia livros, talvez estivesse deixando de acreditar que iria encontrar alguém lendo Nietzsche, e assim, não iria poder dizer: foi Nietzsche que nos uniu.  Mas o que iria dizer mesmo, é que senti uma ponta de inveja ao ver aqueles dois meninos iniciando uma espécie de namoro, de se encontrarem pela capa do livro como dois pássaros que encontram o mesmo ninho e resolvem dividi-lo para o bem dos dois, um contrato social via capa de livro.”  

     A pequena narração acima é crônica. Crônica em um sentido um tanto doentio da palavra, já que em uma escola e principalmente em uma sociedade que se diz gozar de modernidade e ideias a frente de seu tempo, aqueles que partilham de uma vivência da sexualidade que não se enquadra no rótulo heteronormativo, no mínimo, são considerados doentes. É doente também, e esta doença não se restringe somente a opiniões pessoais e preconceituosas, mas sim a uma inaceitável negação aos direitos humanos de que toda e qualquer pessoa, independente de seu credo, cor, classe, etnia e orientação sexual merece dignidade, segurança e respeito.  Para lembrar que direitos humanos ainda existem, quanto ainda será necessário ratificar que a adolescência é uma idade de descoberta e que nisto, a sexualidade implica naturalmente em orientações diferentes, seja ela bissexual, homossexual e  heterossexual? Quanto ainda será necessário também, listar mais e mais casos de jovens e adolescentes que sofreram alguma forma de repressão dos colegas devido a sua orientação sexual, e que isso, resulta em mortes   ou  causa transtorno ao adolescente e a toda família ?!
   Tais casos tem sido noticiados a exaustão e nada  ou muito pouco se tem feito para o reparo da homofobia nas escolas, pois por mais que entidades defensoras dos direitos LGBTS tem  lutado fortemente pelos mesmos, temos pouca representatividade no governo e temos um governo que não perece tão preocupado com questões referentes a  homofobia.
        Quantos jovens, meninos ou meninas durante sua vida escolar podem dizer-se homossexuais e sentir-se homossexuais com todo o direito a sê-lo sem sofrer represálias ou discriminações? Tanto se tem gastado e abusado do termo bullying, mas na prática, o que realmente tem sido feito para debela-lo e promover o respeito a diversidade sexual no âmbito escolar? O que tem se visto, são retrocessos que apenas subjugam adolescentes homossexuais a uma total insegurança e hostilidade: câmera no Rio de Janeiro tenta aprovar projeto que proíbe material didático que trabalhe diversidade sexual nas escolas, veto ao kit anti-homofobia, veto ao vídeo educativo voltado ao publico homossexual no carnaval, bancada evangélica encampa projeto cura gay, entre tantos outros atos e discursos homofóbicos abastecidos por ideias extremistas e religiosas que ignoram qualquer menção de direitos humanos.
               Ainda assim, quanto ao combate a homofobia nas escolas,  é e será necessário perguntar a nossa presidenta Dilma Rousseff, se combater a homofobia não significa reconhecer que qualquer orientação sexual não heteronormativa  é tão digna de respeito quanto a heterossexualidade? Lembrar, também que, quando a mesma afirma que o seu governo “combate a homofobia, mas não propagandeia qualquer opção sexual”, parece que nos diz que  a homossexualidade é uma espécie de defeito ou algo vergonhoso e que não há nada de positivo na mesma. E tal como outros “deficientes”, gays devem ter seu “problema” tolerado. Diante de tal afirmação, a figura de guerrilheira e presa política da Dilma de outrora, já não lhe cai tão bem: o governo desta é subserviente aos evangélicos, como se repetisse o discurso nauseante de pastores ou padres: o pecador deve ser amado, mas não o seu pecado, ou seja, gays podem ser acolhidos, mas não a sua homossexualidade.  
    Quantos alunos de 16 anos no ensino médio, independente de ser homossexual ou heterossexual terá senso crítico  o suficiente para perceber que um não deve sentir-se  humilhado pelo que se é e que o segundo não deve reprimir o primeiro devido a uma diferença que até então foi marginalizada por um seio  social preconceituoso? Quantos alunos podem chegar em casa sem culpa alguma de sentir atração pel@ colega do mesmo sexo e até introduzir na família, uma maior consciência, respeito e tolerância com a diversidade sexual? E não é função da escola formar não apenas alunos, mas sim alunos com consciência crítica frente às realidades da quais comunga? Ao não permitir uma educação sobre diversidade sexual da escola, sendo ela necessária para formação de uma sociedade justa e equilibrada, onde a lecionarão então? Na rua que não vai ser, pois é justamente devido a esse déficit educacional que rua é lugar de homofobia escancarada, agressão e espancamento.  

PS: A próxima coluna vai unir duas coisas muito boas! Homem e Música Popular Brasileira. Até lá.  

12 comentários:

  1. Lendo o seu texto, lembrei de uma coisa, aqui em Santa Catarina, e imagino que isso deve ser no Brasil todo, a função principal da escola pública é a formação para a vida, ai quando tu traz essas reflexões da falta de liberdade sexual e na maioria das vezes a pura falta de conhecimento da direção escolar, de professores e dos próprios colegas, eu me pergunto que formação social está se tendo? por que viver em sociedade é saber respeitar toda e qualquer diferença.
    Quanto a Dilma, eu confesso que fui ingenua e cheguei acreditar que ela poderia fazer alguma diferença...
    Parabéns Dieison, muito boas essas suas reflexões.

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  2. Eu só sei que ambiente escolar pode ser muito tóxico. Já era na "minha época"... imagino agora... hehehe! Bacana seu texto, rapaz! Hugz!

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  3. se fala muito em bullying, até virou algo vulgar por que tudo é considerado bullying, mas a discussão sobre bullying homofóbico está longe das escolas e das mais diversas esferas sociais. Até por que as escolas praticam bullying homofóbico, por que ao se silenciar diante de uma situação repetitiva de preconceito contra a sexualidade de um individuo elas estão colaborando com essa situação.

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  4. Concordo com o Fred, o ambiente escolar pode ser muito tóxico, ainda mais com tanta intolerância

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  5. sinceramente acho q fazem muito drama com este tal de bullyng nos dias de hoje. isto sempre existiu e cada um sabia como lidar com isto sem muita churumela ... qdo me sentia "bolinado" UI saía logo nas porradas e estávamos resolvidos ... rs

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  6. A falta de senso crítico para mim está justamente na falta de educação, e educação em todos os sentidos, o de conhecimento e o de respeito. A muito tempo a escola deixou de ser um lugar que ensina só educação, ela ensina indiferença pelo próximo e tantos outros preconceitos. E para tudo isso não existe um culpa só, mas diversos culpados, o governo, a direção escolar, os professores e principalmente os pais que esperam que a escola de toda a educação de que seus filhos necessitam

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  7. meu primeiro comentário é que adolescente lê Nietzche?

    o problema do governo é que ele propagandeia uma "opção sexual" sim, o HETEROSSEXUALISMO.

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  8. Viver em sociedade é saber respeitar o outro e isso não acontece no Brasil, a população está muito mais interessada em cuidar da vida alheia do que da sua própria vida e enquanto isso não mudar não teremos uma total igualdade.

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  9. Adorei o post, concordo totalmente. Qdo vetaram o "kit homofobia" nas escolas achei um absurdo e uma postura da Dilma inexplicável!
    Ótimo texto!
    Bjosss

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  10. Fredericoooo... todos são número, hein????? Hahahaha!

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  11. Putz adorei fred postagem muito massa uhshuahu espero que n ligue deu ta pegando emprestado a imagens husaushau amei rsrs vo por no blog, era justamente a imagen que precisava pro post que tava pesando vlw ^^

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  12. muito bom o texto.
    acho que a escola poderia fazer sua parte nisso mesmo. mostrar que não tem nada de errado nisso poderia poupar vidas e fazer com que mais gente vivesse feliz.

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