16 outubro 2012

Sim, eu gosto

Dieison Marconi
 Semana passada fui passar alguns dias na casa dos meus pais, e andando pela rua com fones de ouvido e caminhando com meu jeitinho especial de ser, um guri  que deveria ter cerca de nove ou dez anos de idade, parou em minha frente com sua bicicleta, e disse:
- Meu amigo me disse que tu é mulher.  Tirei os fones de ouvido para ouvi-lo melhor, e respondi com naturalidade:
-Não, eu não ou mulher. Eu sou gay.  E ele com uma expressão de espanto diante de tal  afirmação e da possível  semântica que o termo gay teria pra ele, me indagou: 
-Tu é gay?Mas tu não pode ser gay... 
-Sim, eu posso. Rebati. 
-Então tu gosta de homem?
-Sim, eu gosto. Aí, ele rindo pra mim como se não acreditasse no que tinha acabado de ouvir, saiu andando com sua bicicleta, e eu segui também. Segui rindo da situação ao perceber  como uma criança de 10 anos de idade já tem uma opinião completamente formada sobre a homossexualidade, de que esta é suja, feia, imoral e deve ser evitada por que ser algo inteiramente vergonhoso. Obvio que esta criança não criou essa impressão sozinha:  certamente seus pais contribuíram e muito. Seus amiguinhos, que também foram influenciados por alguém mais velho, também contribuem.  A escola, na omissão de não debater temas como estes na na mais tenra idade, também contribui. Este menino que me parou na rua deve ter uma imagem tão horrível do que é ser gay que chegou a me dizer: "tu não pode ser gay." Novidade nisso tudo? Nenhuma, muito pelo contrário. Só constatei o que todos nós  já sabemos. Que nenhuma criança nasce achando que ser homossexual é sinônimo de uma doença, mas que ao ser parida, já está destinada  a acreditar em tal ideia, pois famílias, amigos,  escolas, mídia,  igrejas e estado já estão ali, altamente poluentes, prontos para formar e dizer qual comportamento é certo e errado, o que deve ser evitado, o que devem discriminar, o que devem julgar e excluir.  Agora substituo a criança que acusa e discrimina pela criança que é acusada e discriminada  e chego a conclusão de que uma criança homossexual já nasce em um verdadeiro território de inimigos, e que ela não tem como proteger-se sozinha. Alguma novidade nesta última constatação? Não, nenhuma também.  Mas também fiquei pensando que ao afirmar naturalmente pra aquela criança que sou gay, será que não plantei uma sementinha da dúvida sobre o que ela que acredita ser gay até o momento? 
 Mas nem tudo está perdido, e não falo somente das conquistas que nós LGBTs temos alcançado nestes últimos anos, como por exemplo o fato de o Rio Grande do Sul gerar carteira de identidade social para transformistas e travestis,  fato do STF reconhecer a união homoafetiva no Brasil e do estado da Bahia que legalizou o casamento civil homoafetivo  semana passada. (Alias pessoal, não que eu queira casar, mas estou solteiro, ok?)  Falo que nem tudo está perdido, pois, já que  este mês é o mês das crianças, fiquei a pensar que seria muito mais bonito se aquele  guri que me parou na rua  me dissesse algo como as crianças do vídeo abaixo, e principalmente, tivesse um pouquinho das mesmas ideias.   
O vídeo tem pouco mais de dois minutos e é uma edição do Fala piá- tv Brasil, que explora a diversidade cultural de crianças em todo o Brasil. É o momento em que meninos e meninas seguram o microfone e falam dos mais variados assuntos, assumindo o controle do programa. Confesso que, ao ouvi-los falar me dá uma esperança enorme em mundo mais tolerante  e sem preconceitos, de que crianças não se tornem adultos intolerantes, preconceituosos e homofóbicos.  E que outras  crianças, no futuro, não se tornem  vitimas dessa mesma homofobia. 
E agora, olhem a a reação dessa outra criança ao se deparar com um casal de homossexuais, e principalmente, a sua conclusão final:  

8 comentários:

  1. Que esses pensamentos infantis, se tornem adultos.... que eles cresçam pensando assim....
    Um futuro melhor se avizinha...se Deus quiser.E ele a de querer.
    Beijos criança Diei....

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  2. Muito pertinente esse texto!

    Como eu costumo dizer, não há no Brasil uma educação que prime por uma conscientização plena da sexualidade humana desde cedo. Aprendemos, porém, que há pólos que devem ser seguidos, dos quais o masculino e o feminino são amplamente cultuados. Por essa razão, qualquer "diferença" já soa como anormal e antinatural, colaborando para difusão dos piores tipos de violência.

    #lamentável!

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  3. Afffff.... tem coisa mais ixkizitinha do que uma bichinha poc poc caminhando na rua? Querendo ou não isso chama a atenção e vai continuar chamando até o fim dos tempos. O preconceito contra a classe é por causa das divas que se dizem mulheres presas num corpo de homem. Ninguém merece. Por isso nunca aceitei os incontáveis convites do(a) Fred pra sair comigo. Não quero ser visto na rua ao lado de uma besha uhó. kkkkkkkkkkkkkk

    #falomesmo

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    1. Tem gente que não tem medo de perdeu o pau. Fica a dica ;)

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  4. Esse último vídeo é lindinho! Ele ficou confuso...mas aceitou numa boa. Essas crianças são esperança de um futuro melhor.

    Beijos Diei e Fred...

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  5. ora, mudamos essas crianças qndo não escondemos nossa vida como pecado. o que mais chocou essa criança foi, provavelmente a sua naturalidade em lidar com o assunto.

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  6. quando as crianças não são contaminadas com a hipocrisia dos adultos elas conseguem perceber o quanto tudo isso é normal, mas infelizmente a tv e vários outros meios mostram p elas que ser gay é algo ruim

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  7. de fato o que mais vemos é que o preconceito está começando cada vez mais cedo nos indivíduos, isso só se resolve com educação e no momento que as pessoas entenderem que ninguém é igual, todos tem as suas diferenças e devemos aprender a lidar com elas. Já se foi o tempo em que as crianças eram mais "puras".

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