Um ex ativista gay, dois empresários
de casas noturnas, duas travestis e uma mulher. Seis histórias com muitos pontos
em comum: a cena e o comportamento gay em Porto Alegre durante as décadas de
70, 80 e 90. A pegação, as casas noturnas, as amizades, o sexo, o preconceito,
a chegada da AIDS, um tempo que ainda não parou. Meu tempo não parou: amor em tempo de Aids é daqueles
documentários que você senta pra ver e acaba sendo conduzindo a uma narrativa
que oscila entre a ratificação de que não se deve envergonhar de suas
verdadeiras cores e ao mesmo tempo, como pessoas sem medo de viver o que eram,
foram marginalizadas e mortas pela desinformação, pelo preconceito e pelo HIV.
Hoje, 17 de maio, o Dia Internacional da Luta contra a
Homofobia é lembrado como o marco em que a Organização Mundial, em 1990,
retirou o termo “homossexualismo” da Classificação Internacional de Doenças
(CID), reconhecendo que “a homossexualidade é um estado mental tão saudável
quanto a heterossexualidade”. Meu tempo não parou se localiza justamente
pouco antes desse avanço, especificamente em Porto Alegre. Marcely Malta, Dilnei Messias, Dheyser Veiga, Veruska, Bento
Rocha, Edna Keitel e
Gerson Winkler são as personagens desta história. Por vezes, as entrevistas
intercaladas uma a outra podem tornar-se cansativas, no entanto, o enquadramento do filme (em grande maioria closes e primeiro plano), evidenciam um emocional, um íntimo dos
entrevistados que vão desde as locações que
se deram em lugares afetivos para os
personagens-sociais, como por exemplo, o Parque da Redenção, a casa noturna Flowers, o teatro, suas próprias casas, bem como as
palavras e as histórias do que cada um fez, viu e sentiu durante algumas décadas
coloridas e arrasadas.
Entre os entrevistados no documentário, surge
uma foto da época que ganha status de personagem. Nela há a visão mais fiel do vírus do HIV como uma praga gay: um homossexual vitimado pela
AIDS é carregado em uma maca por um grupo de médicos que portam máscaras, luvas, botas, capas e outras
formas de proteção. Pânico e desinformação geral. Como funcionavam as casas gays em Porto
Alegre? Como estas sobreviviam ao conservadorismo e ao período ditatorial? Como
sair na rua como travesti na época? Onde e como transar com seu parceir@? Como era
ver seus amigos de livre e espontânea vontade se sujeitando a métodos médicos
que prometiam a cura da homossexualidade? Como era ver amigos e familiares
morrendo devido a AIDS sem saber realmente, o que isso era, mas que mesmo assim,
dizia-se (revista Veja na Época) que era uma praga gay?
Tudo se embaraça como lembrança e reflexão em
um documentário que dura pouco mais de meia hora, mas que nos mostra, que
apesar de todos os problemas que gays, lésbicas, travestis, transformistas, transexuais
e todas as facetas da diversidade sexual humana ainda enfrentam, evoluímos muito.
É fato que ainda há muito por mudar, mas
evoluímos. O que parece ser realmente o mesmo daquela época para agora, é que vivenciar sua própria sexualidade marginalizada, é felicidade enobrecida.
Fica a sugestão pra quem se interessou: Meu
tempo não parou- Direção
Sílvio Barbizan e Jair Giacomini- (Nuances-2008)
se pensarmos bem, em menos de 10 anos, se descobriu uma forma de controle não é? foi bem rápido, qndo os heterossexuais começaram a ficar doentes também.
ResponderExcluirmuito bom, frederico. é importante sempre se lembrar disso e comentar, falar do assunto. fiquei com vontade de ver este documentário.
ResponderExcluirnão sei se você leu no meu blog, mas eu fui uma peça sobre o início da aids nos anos 80 nos estados unidos, quando tudo começou e como foi tratado. muito boa.
fica a dica: "the normal heart" - link aqui.
abraços!
o Foxx está certo e foi na mosca ...
ResponderExcluirMuito bom esse texto, sem dúvida uma discussão bem pertinente!!
ResponderExcluirPena que não se tem muito para comemorar, pois a homofobia parece aumentar a cada dia mais
ResponderExcluirMuito bom o texto, e o documentário parece legal, vou assistir.
ResponderExcluirOie quero saber onde posso encontrar este documentário para olhar? Obrigada!!!
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