17 maio 2012

Meu tempo não parou: amor em tempos de Aids

Dieison Marconi

Um ex ativista gay, dois empresários de casas noturnas, duas travestis e uma mulher. Seis histórias com muitos pontos em comum: a cena e o comportamento gay em Porto Alegre durante as décadas de 70, 80 e 90. A pegação, as casas noturnas, as amizades, o sexo, o preconceito, a chegada da AIDS, um tempo que ainda não parou. Meu tempo não parou: amor em tempo de Aids é daqueles documentários que você senta pra ver e acaba sendo conduzindo a uma narrativa que oscila entre a ratificação de que não se deve envergonhar de suas verdadeiras cores e ao mesmo tempo, como pessoas sem medo de viver o que eram, foram marginalizadas e mortas pela desinformação, pelo preconceito e pelo HIV.  

Hoje,  17 de maio, o Dia Internacional da Luta contra a Homofobia é lembrado como o marco em que a Organização Mundial, em 1990, retirou o termo “homossexualismo” da Classificação Internacional de Doenças (CID), reconhecendo que “a homossexualidade é um estado mental tão saudável quanto a heterossexualidade”.  Meu tempo não parou se localiza justamente pouco antes desse avanço, especificamente em Porto Alegre. Marcely Malta, Dilnei Messias, Dheyser Veiga, Veruska, Bento Rocha, Edna Keitel e Gerson Winkler são as personagens desta história. Por vezes, as entrevistas intercaladas uma a outra podem tornar-se cansativas, no entanto, o enquadramento do filme (em grande maioria closes e primeiro plano), evidenciam um emocional, um íntimo dos entrevistados que vão desde as locações que se deram em lugares afetivos para os personagens-sociais, como por exemplo, o Parque da Redenção, a casa noturna Flowers, o teatro, suas próprias casas, bem como as palavras e as histórias do que cada um  fez, viu e sentiu durante algumas décadas coloridas e arrasadas.

Entre os entrevistados no documentário, surge uma foto da época que ganha status de personagem. Nela há a visão mais fiel  do vírus do HIV como uma praga gay:  um homossexual  vitimado pela AIDS é carregado em uma maca por um grupo de médicos que portam máscaras, luvas, botas, capas e outras formas de proteção. Pânico e desinformação geral. Como funcionavam as casas gays em Porto Alegre? Como estas sobreviviam ao conservadorismo e ao período ditatorial? Como sair na rua como travesti na época? Onde e como transar com seu parceir@? Como era ver seus amigos de livre e espontânea vontade se sujeitando a métodos médicos que prometiam a cura da homossexualidade? Como era ver amigos e familiares morrendo devido a AIDS sem saber realmente, o que isso era, mas que mesmo assim, dizia-se (revista Veja na Época) que era uma praga gay?  
Tudo se embaraça como lembrança e reflexão em um documentário que dura pouco mais de meia hora, mas que nos mostra, que apesar de todos os problemas que gays, lésbicas, travestis, transformistas, transexuais e todas as facetas da diversidade sexual humana ainda enfrentam, evoluímos muito.  É fato que ainda há muito por mudar, mas evoluímos. O que parece ser realmente o mesmo daquela época para agora, é  que vivenciar sua própria sexualidade marginalizada, é felicidade enobrecida.    

Fica a sugestão pra quem se interessou: Meu tempo não parou- Direção Sílvio Barbizan e  Jair Giacomini- (Nuances-2008)

7 comentários:

  1. se pensarmos bem, em menos de 10 anos, se descobriu uma forma de controle não é? foi bem rápido, qndo os heterossexuais começaram a ficar doentes também.

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  2. muito bom, frederico. é importante sempre se lembrar disso e comentar, falar do assunto. fiquei com vontade de ver este documentário.

    não sei se você leu no meu blog, mas eu fui uma peça sobre o início da aids nos anos 80 nos estados unidos, quando tudo começou e como foi tratado. muito boa.

    fica a dica: "the normal heart" - link aqui.

    abraços!

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  3. Muito bom esse texto, sem dúvida uma discussão bem pertinente!!

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  4. Pena que não se tem muito para comemorar, pois a homofobia parece aumentar a cada dia mais

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  5. Muito bom o texto, e o documentário parece legal, vou assistir.

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  6. Oie quero saber onde posso encontrar este documentário para olhar? Obrigada!!!

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