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06 setembro 2012

Quem são eles? Quem eles pensam que são?

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Dieison Marconi                          
Todos sabem que as reivindicações da comunidade LGBT, apesar das constantes apunhaladas que sofrem de grupos contrários, nós gays, lésbicas, bissexuais, transformistas e transexuais temos um discurso que aos poucos, em doses homeopáticas, vem se legitimando.  Mesmo assim, ao passo que a nossa minoria sexual torna-se visível frente a mídia, sociedade e poder público, alguns de nós permanecem inexistentes, na invisibilidade social. São aqueles que não têm seu discurso assegurado,  que não tem sua imagem atrelada a esta incessante luta por um vida mais digna e sem repressões, que parecem não existir dentro de um movimento que já tem mérito e muitas conquistas. E pior, essa invisibilidade de alguns dentro do movimento LGBT parece comungar com um preconceito de massa: falo aqui da invisibilidade dos idosos, da invisibilidade dos idosos homossexuais.

Idosos em geral ainda são um tanto quanto inexistentes aos olhos da esfera pública, ainda parecem perder a importância por lhe lançarem o rótulo de “improdutividade” e “despesa” ao poder público. São esquecidos em prol da ultravalorização da beleza e do mito da juventude eterna. Tudo isso acontece ao passo em que estatísticas demonstram que nossa população está vivendo mais, que a longevidade tem sido um exemplo de bom índice de desenvolvimento humano no país se comparado  há décadas atrás. Outro item que parece quase intocável quando o assunto é a população idosa é a sua sexualidade: é como se esta fosse anulada por um preconceito que diz respeito a vida sexual na velhice. É tão difícil imaginar a vovó transando com o vovô? Pode ser, e para muitos, realmente é. Mas eles não são crianças, meu bem. Ainda assim, a atenção que idosos heterossexuais recebem quando comparada com a atenção que idosos homossexuais recebem, temos uma dimensão aterrorizante da falta de visibilidade que os nossos "LGBTs velhos" possuem, pois se as concepções heterormativas, homofóbicas e patriarcais já maculam nossa sexualidade “desviante” enquanto jovens, o que dizer de uma sexualidade desviante na velhice?! Murilo Mota Peixoto, que tem alguns estudos na área, diz que enquanto é “aceitável” remeter a sexualidade de idosos heterossexuais ao carinho, proteção e companheirismo, a sexualidade dos idosos homossexuais está atrelada a estereótipos vulgares, sujos e grotescos.   Além disso, me parece que enquanto idosos heterossexuais vislumbram e possuem um presente rodeado por esposa ou marido, filhos e netos, idosos homossexuais por não se inserirem neste modelo, são  apenas aqueles e aquelas sobreviventes acusados de peste gay lá no  século passado. 

E onde fica a inserção social desta minoria?  Quais são as estatísticas que temos dessa população? Onde eles estão?  Quando passarão a existir do ponto de vista histórico, cultural e social? Quando haverá mais estudos que contemplem gênero e geração? Quando haverá políticas públicas voltadas para este segmento? Ah sim, eu havia esquecido: nosso governo federal, em meados de Fevereiro vetou um vídeo de uma campanha pela prevenção de doenças sexualmente transmissíveis entre homossexuais JOVENS porque neste havia dois  MENINOS que se acariciavam. A campanha se dava pelo fato de que as maiores vitimas de contaminação por DSTs ainda são homossexuais. No entanto, em tal contexto de visibilidade de homossexuais IDOSOS, como vamos esperar algo do gênero voltado para mesmos?    Onde está a comunidade LGBT para torná-los visíveis? Eu sei que é difícil levantar causas de quem está completamente escondido e até se esconde por contra própria, no entanto, temos de cimentar discussões de como dar visibilidade ao idoso homossexual, de como tirá-los do anonimato, de que forma tirá-los do gueto.
Quem sabe,  estudos  como estes abaixo, podem ser o inicio.  Para quem se interessar, é só clicar aí: 

09 agosto 2012

Onde está a homofobia?

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Dieison Marconi
        
         O que é que não temos de aguentar em uma revista eletrônica pra ver uma matéria  que queremos muito, em?! No último domingo, o programa que alcunha-se de Show da Vida (leia-se Fantástico)  nos roubou um precioso tempo falando na possível  existência  de fantasmas e de lugares  mal assombrados. Interessantíssimo, não é?!  Mas a matéria  de meu real interesse era sobre número de vítimas de homofobia no Brasil segundo o relatório da Secretaria dos Direitos Humanos. O relatório da SDH foi elaborado a partir das denúncias do disque 100 e mostrou uma paisagem empiricamente conhecida por nós homossexuais, mas provavelmente desconhecida para a maioria dos heterossexuais.  Esta paisagem homofóbica brasileira, segundo a matéria com base nos dados, é alimentada principalmente pela família ao discriminar e promover a violência física e psicológica contra seus membros homossexuais. Das quase sete mil denúncias de agressões analisadas, 42% aconteceram em casa e 30,8% aconteceram na rua. No entanto, como este número é um resultado das denúncias feitas ao disque 100, e levando em consideração os vários casos que podem não ter sido denunciados, acredito que este número de violência de caráter homofóbico,  em casa ou na rua,  seja  muito maior.
          
O que eu achei da matéria? Gostei. Foi uma ótima ideia o Fantástico ter colocado uma jornalista cadeirante para trabalhar com esta pauta, os depoimentos são tristes e desconfortáveis, e mesmo que às escuras, conseguiram transmitir uma mensagem clara de que a homofobia não se qualifica somente como um assassinato motivado por discriminação da diversidade de orientações sexuais, repudio ou ódio a comunidade LGBT, mas  também como um terrível sofrimento psicológico. Que a homofobia existe ao ponto de uma entrevistada dizer que em sua casa, ela tem apenas inimigos, e a única coisa que pede a eles, é respeito. Que a homofobia, ao contrário dos que alguns dizem, existe sim, tanto que atinge não somente aos gays, travestis, lésbicas, bissexuais e transexuais, mas aquele pai e aquele filho confundidos com um casal gay, aqueles dois irmãos heterossexuais que andam abraçados na rua e um deles é barbaramente assassinado. 
           
Ressalto somente  que foi uma pena a matéria não ter tocado em um dado importante do relatório: é na infância que a maioria dos homossexuais já começam a sofrer a injúria e a violência homofóbica, seja por parte dos pais, dos irmãos, dos tios, dos avós, etc.  Tal dado me fez lembrar a fala de Osvaldo Bazán, jornalista e escritor argentino, num discurso pronunciado na Câmara dos Deputados durante o debate da lei de matrimônio igualitário nas comissões legislativas: “a criança judia sofre a estupidez do mundo, volta para casa e lá seus pais judeus lhe dizem: ‘estúpido é o mundo, não você’. E lhe dizem por que essa noite não é como todas as noites, e contam para ele a história daquela vez em que tiveram que sair correndo e o pão não levaram. Dão-lhe uma lista de valores e falam: ‘Você está parado aqui’. E saberá a criança judia que não está sozinha. A criança negra sofre a estupidez do mundo, volta para casa e lá seus pais negros lhe dizem: ‘estúpido é o mundo, não você’. E lhe falam do berço da humanidade, de um barco, de uma guerra. Dão-lhe uma lista de valores e falam: ‘Você está parado aqui’. E saberá a criança negra que não está sozinha. A criança homossexual sofre a estupidez do mundo e nem pensa em falar com os pais, porque supõe que eles vão ficar chateados. Não sabe por quê, mas eles vão se chatear. E para seus pais, o pior é crer que seu filho não é como eles (…). A criança homossexual, só por ter nascido homossexual, só por ter sido parida em território inimigo, está em guerra com a religião, com a ciência e com o Estado. Como poderá uma criança enfrentar uma luta tão desigual?”.  (Não preciso nem falar que no quesito de validação dos direitos LGBTS, a Argentina está bem a nossa frente, os representantes políticos tupiniquins teriam muito a aprender com nossos hermanos)         
           
No relatório, também fiquei um tanto surpreso quando vi que as mães tendem a ser os entes familiares mais homofóbicos, que atitudes como a agressão física ou psicológica e expulsar o filho ou a filha de casa, partem, na maioria das vezes, delas: 9,5 % das agressões foram praticadass por mães, enquanto 4,8 % foram praticas pelos pais.
            
A matéria do Fantástico veio em boa hora? Veio.  É ótima a divulgação desse relatório? Sim, é ótima. Mas seria melhor ainda se não ficasse apenas na divulgação.  Precisamos de políticas públicas efetivas por parte do governo federal, pois até agora, NÃO HÁ NADA. Alias, se uma mísera e simples tentativa de conter o bullying  homofóbico nas escolas foi vetado, ou mesmo uma simples campanha de prevenção contra o vírus do HIV entre os gays por estes serem os mais contaminados também foi  vetada, o que dizer então da PL122 que visa criminalizar a homofobia?
           
Não posso deixar de falar das criticas que a reportagem do Fantástico recebeu  dos cristãos antes e depois de sua exibição. Tais criticas não exigiam nada mais, nada menos que o “Show na Vida” fizesse uma reportagem sobre a cristãofobia. Isso mesmo! Cristãos que são mortos, agredidos, ofendidos, expulsos de casa, que tem de travar uma guerra para adotar crianças e casar no estado civil, eles que são rejeitados, perdem o emprego e tem seu psicológico abalado somente por  serem  ....somente por serem cristãos.  
       
Na verdade, sugeriria ao Fantástico que fizesse  uma nova matéria sobre cristianismo sexofóbico, sobre o bolorento e hediondo armário que boa parte dos cristãos insistem em permanecer enquanto vergonhosamente desrespeitam direitos humanos e cidadãos, enquanto insistem em um ódio gratuito para com nós, LGBTS. Sim, estes cristãos que  pregam apenas o amor de cristo.

19 julho 2012

Amor, sexo e cinema

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Dieison Marconi
O Dia dos namorados já passou e o Dia do sexo ( data esta em  que uns comemoram, outros questionam e outros choram)  ainda está por vir, mesmo assim, a coluna de hoje vai tratar de cenas de amor homoafetivo no cinema mundial. Perambulando pelo meu Filmow, ao ver vários filmes com temática homossexual (ou não) e que em meio a trama lançavam mão de algumas cenas quentes, tórridas, românticas e sensuais, resolvi fazer da coluna de hoje uma lista com minhas cenas homoafetivas favoritas, sem pretensão de criar um lista como aquelas de “as cinco melhores cenas gays do cinema", pois não tenho tarimba pra isso e nem assisti a todos os filmes do gênero já lançados ou que simplesmente tenham uma ou outra cena que possa se enquadrar aqui. São oito cenas bem curtas, mas que variam entre o cinema espanhol, norte americano, francês, alemão e brasileiro. E são ótimas cenas!

A primeira cena trago mais pela importância do que pelo favoritismo. Ela data de 1927, está em preto e branco, é cinema mudo e nela está o primeiro beijo homossexual exibido na história do cinema. A cena é do filme Wings, no qual dois pilotos de combate  (interpretados por Buddy Rogers e Richard Allen) se acariciam e se beijam timidamente.  É uma cena que não esbanja tesão e sensualidade, mesmo assim, é um beijo em preto e branco que começaria a tirar a homossexualidade do gueto ainda  nos anos 20. Quando vi este filme, lembrei de mim lá em 2006, com 14 anos de idade, assistindo ao  Brokback Mountain e achando  tudo tão inovador (risos), sem saber que Broakbeck Mountain, de certa forma, já estava em Wings. Este filme foi o primeiro longa do cinema mudo ao receber o Oscar de melhor filme. Eis a cena do beijo:

Se o primeiro beijo entre dois homens acorreu em 1927, o primeiro beijo entre duas mulheres foi acontecer em 1931, no filme Machen in Uniform, e foi entre uma professora e uma aluna de 14 anos de idade. Mas foi, também, um beijo super tímido!  Foi o cinema  que  trouxe os primeiros “romances homossexuais" para as telas, antes mesmo da TV, já que nesta, o primeiro beijo entre gays foi acontecer apenas em 1960. Há também uma diferença um certa distância temporal entre o primeiro beijo e o primeiro beijo gay exibido no cinema, já que o primeiro data de 1896.  Veja a cena de Machen in Uniform abaixo. (Vale lembrar que este filme foi refilmado em 1958).

A próxima cena, é sem dúvida, umas das minhas preferidas, por três motivos: gosto do cinema francês, esta cena tem ótima fotografia, trilha sonora e atuação, e claro, a androginia do Louis Garrel. Poético e delicado, Les chansons de amour (As canções de amor, 2007) musical francês de Cristophe Honoré, substitui muitos dos diálogos por canções, o que me dá uma imensa vontade de ter o Garrel cantando Ma memórie sale ao pé do meu ouvido, como na cena a abaixo, na qual  Samuel (Louis Garrel) finalmente deixa-se levar pelo desejo de  Erwann (Grégorie Leprince).
Outra cena que não consigo apagar da minha memória cinematográfica é a do filme J’ai tué a me mère ( Eu matei minha mãe, 2009) com direção e atuação de Xavier Dolan.  A cena em questão, é uma explosão de cores. Notavelmente inspirada na arte de Jackson Pollok,  Hubert (Xavier Dolan) e Antonin ( Françóis Arnould) começam a pintar uma parede, e entre tintas e jornais, terminam em uma quente cena de amor.

Mais quente que a artística cena de amor entre Xavier Dolan e François Arnould, só mesmo a transa entre Ninna (Natalie Portman ) e Lilly ( Mila Kunis) em Cisne Negro (2010). Pra quem já viu o filme, uma cena tão quente quanto louca, e loucamente bem interpretada por ambas as atrizes. Não é a toa que Natalie levou o Oscar de melhor atriz pelo longa. 

A próxima cena, mais uma vez, não é uma cena de sexo, mas eu não tinha como deixar de fora a atuação de Heatch Ledger e Jake Gyllenhaal neste beijo desesperador. Não há como negar que O Segredo de Brokeback Mountain, é sem duvida, um dos melhores filmes já feitos abordando relações homossexuais, com roteiro, direção, fotografia e atuações incríveis. E O Heatch Ledger?! Ah o Heatch Ledger...
Obvio que não podia faltar uma cena de algum filme de Almodóvar, o problema é que NÃO é fácil escolher uma cena homoafetiva em um filme do cineasta espanhol, já que todos são repletos de cenas do gênero. Abaixo eu exibo a sensual cena da piscina no polêmico Má Educação (2004).  
Por fim, o Diabo rouba a cena, pois pra fechar a lista, não podia faltar uma cena homoafetiva do cinema brasileiro. Eis que surge, aí o biográfico Madame Satã (2002), gloriosamente atuado por Lázaro Ramos como protagonista ao interpretar João Francisco dos Santos Sant’ana, malandro, homossexual, transformista brasileiro. Madame Satã faz parte daquele seleto grupo de filmes brasileiros que merecem ser assistidos, lapidados, degustados.  Eis a cena, que é sim, de tirar o fôlego, excelentes atuações.   
Sinto que eu deixei muitos filmes e cenas de fora, só de Almodôvar teriam muitos outras, inúmeras cenas a cada filme. Faltou  também, por exemplo, o dançante final de Beautiful Thing, a descoberta do beijo  em Eu não quero voltar sozinho,  as picantes cenas da Penélope Cruz e  Charlize Theron em Três vidas e um destino,  Sheron Stone e Jeanne Tripplehom em Instito Selvagem e tantas outras cenas.  Quem sabe, em outro post, eu faça uma segunda lista.

Deixo o link para uma lista interessante (que não é minha) das melhores cenas lésbicas do cinema: http://letral.com/artigos/5-melhores-cenas-lesbicas-cinema



17 maio 2012

Meu tempo não parou: amor em tempos de Aids

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Dieison Marconi

Um ex ativista gay, dois empresários de casas noturnas, duas travestis e uma mulher. Seis histórias com muitos pontos em comum: a cena e o comportamento gay em Porto Alegre durante as décadas de 70, 80 e 90. A pegação, as casas noturnas, as amizades, o sexo, o preconceito, a chegada da AIDS, um tempo que ainda não parou. Meu tempo não parou: amor em tempo de Aids é daqueles documentários que você senta pra ver e acaba sendo conduzindo a uma narrativa que oscila entre a ratificação de que não se deve envergonhar de suas verdadeiras cores e ao mesmo tempo, como pessoas sem medo de viver o que eram, foram marginalizadas e mortas pela desinformação, pelo preconceito e pelo HIV.  

Hoje,  17 de maio, o Dia Internacional da Luta contra a Homofobia é lembrado como o marco em que a Organização Mundial, em 1990, retirou o termo “homossexualismo” da Classificação Internacional de Doenças (CID), reconhecendo que “a homossexualidade é um estado mental tão saudável quanto a heterossexualidade”.  Meu tempo não parou se localiza justamente pouco antes desse avanço, especificamente em Porto Alegre. Marcely Malta, Dilnei Messias, Dheyser Veiga, Veruska, Bento Rocha, Edna Keitel e Gerson Winkler são as personagens desta história. Por vezes, as entrevistas intercaladas uma a outra podem tornar-se cansativas, no entanto, o enquadramento do filme (em grande maioria closes e primeiro plano), evidenciam um emocional, um íntimo dos entrevistados que vão desde as locações que se deram em lugares afetivos para os personagens-sociais, como por exemplo, o Parque da Redenção, a casa noturna Flowers, o teatro, suas próprias casas, bem como as palavras e as histórias do que cada um  fez, viu e sentiu durante algumas décadas coloridas e arrasadas.

Entre os entrevistados no documentário, surge uma foto da época que ganha status de personagem. Nela há a visão mais fiel  do vírus do HIV como uma praga gay:  um homossexual  vitimado pela AIDS é carregado em uma maca por um grupo de médicos que portam máscaras, luvas, botas, capas e outras formas de proteção. Pânico e desinformação geral. Como funcionavam as casas gays em Porto Alegre? Como estas sobreviviam ao conservadorismo e ao período ditatorial? Como sair na rua como travesti na época? Onde e como transar com seu parceir@? Como era ver seus amigos de livre e espontânea vontade se sujeitando a métodos médicos que prometiam a cura da homossexualidade? Como era ver amigos e familiares morrendo devido a AIDS sem saber realmente, o que isso era, mas que mesmo assim, dizia-se (revista Veja na Época) que era uma praga gay?  
Tudo se embaraça como lembrança e reflexão em um documentário que dura pouco mais de meia hora, mas que nos mostra, que apesar de todos os problemas que gays, lésbicas, travestis, transformistas, transexuais e todas as facetas da diversidade sexual humana ainda enfrentam, evoluímos muito.  É fato que ainda há muito por mudar, mas evoluímos. O que parece ser realmente o mesmo daquela época para agora, é  que vivenciar sua própria sexualidade marginalizada, é felicidade enobrecida.    

Fica a sugestão pra quem se interessou: Meu tempo não parou- Direção Sílvio Barbizan e  Jair Giacomini- (Nuances-2008)

19 janeiro 2011

Homossexualidade na história: breve balanço histórico. Parte II

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Continuando com o post da quarta passada (Parte I aqui)

Boa parte do modo como os povos da Antiguidade encaravam o amor entre pessoas do mesmo sexo pode ser explicada – ou, ao menos, entendida – se levarmos em conta suas crenças. Na mitologia grega, romana ou entre os deuses hindus e babilônios, por exemplo, a homossexualidade existia. Muitos deuses antigos não têm sexo definido. Alguns, como o popularíssimo hindu Ganesh, da fortuna, teriam até mesmo nascido de uma relação entre duas divindades femininas. Não é nada difícil perceber que, na Antiguidade, o sexo não tinha como objetivo exclusivo a procriação. Isso começou a mudar, porém, com o advento do cristianismo.                                                                         
O judaísmo já pregava que as relações sexuais tinham como único fim a máxima exigida por Deus: “Crescei e multiplicai-vos”. Até o início do século 4, essa idéia, porém, ficou restrita à comunidade judaica e aos poucos cristãos que existiam. Nessa época, o imperador romano Constantino converteu-se à fé cristã – e, na seqüência, o cristianismo tornou-se obrigatório no maior império do mundo. Como o sexo passou a ser encarado apenas como forma de gerar filhos, a homossexualidade virou algo antinatural. Data de 390, do reinado de Teodósio, o Grande, o primeiro registro de um castigo corporal aplicado em gays.    Muita polêmica gira em torno do tema “homossexualidade”, inclusive se questionando se é uma doença, que se dá por um desvio comportamental do indivíduo; ou por uma questão biogenética, em que o indivíduo, mulher ou homem, tornam-se homossexuais durante o desenvolvimento intra-uterino, em que a quantidade de hormônio masculino (testosterona) recebido pelo feto, pode determinar se o indivíduo em uma fase mais madura de sua vida terá uma inclinação para o sexo oposto ou semelhante ao seu. Ou ainda, que trata tão somente de uma escolha, ou seja, uma questão de orientação sexual, em que o indivíduo escolhe se relacionar com alguém do mesmo sexo ou não, podendo também, escolher se relacionar com ambos.

Como vimos a homossexualidade não é algo novo no comportamento humano, não se trata de uma forma “moderna” de viver. A homossexualidade é algo que já existe a muito tempo, antes mesmo de Cristo, já se verificava a existência de relações homossexuais. Podemos tomar como exemplo um dos mais antigos e importantes conjuntos de leis do mundo, elaborado pelo imperador Hammurabi na antiga Mesopotâmia em cerca de 1750 a.C., contém alguns privilégios que deveriam ser dados aos prostitutos e às prostitutas que participavam dos cultos religiosos. Eles eram sagrados e tinham relações com os homens devotos dentro dos templos da Mesopotâmia, Fenícia, Egito, Sicília e Índia, entre outros lugares. Herdeiras do Código de Hammurabi, as leis hititas chegam a reconhecer uniões entre pessoas do mesmo sexo. E olha que isso foi há mais de 3 mil anos.

Não há dúvida de que a homossexualidade é e sempre foi menos comum do que a heterossexualidade. No entanto, a homossexualidade é claramente uma característica muito real da espécie humana.” Para muitos, ainda hoje sair do armário continua sendo uma questão de tempo. As portas, no entanto, vêm sendo abertas desde a Antiguidade.
 
Sair do armário - Fica Dica ;)

12 janeiro 2011

Homossexualidade na antiguidade: breve balanço histórico. Parte I

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Obs: por esse post ter ficado muito grande ele foi dividido em 2 partes, a continuação publicarei na próxima quarta.

Parte I
Por milhares de anos, o amor entre iguais era tão comum que não existia nem o conceito de homossexualidade, relações afetivas e sexuais de pessoas do mesmo sexonão eram entendidas como hoje. Na Grécia antiga, por exemplo, acreditava-se que o conhecimento de um homem poderia ser transmitido para outro através das relações sexuais, é por isso que temos mais conhecimento de relações homoafetivas entre filósofos e letrados.
Na Grécia e na Roma da Antiguidade, era absolutamente normal um homem mais velho ter relações sexuais com um mais jovem (os famosos pupilos). O filósofo grego Sócrates, adepto do amor entre pares, pregava que o coito anal era a melhor forma de inspiração, já o sexo heterossexual, por sua vez, servia apenas para procriar. Para a educação dos jovens atenienses, esperava-se que os adolescentes aceitassem a amizade e os laços de amor com homens mais velhos, para absorver suas virtudes e seus conhecimentos de filosofia. Após os 12 anos, desde que o garoto concordasse, transformava-se em um parceiro passivo até por volta dos 18 anos, com a aprovação de sua família. Normalmente, aos 25 tornava-se um homem; então esperava-se que assumisse o papel ativo.
 O fato de um homem ter sua esposa não era impedimento para que se relacionasse com um adolescente; nem o fato de se relacionar com o adolescente significava o fim do seu casamento. A pederastia (relacionamento de um homem mais velho com um adolescente) dificilmente alterava a imagem do homem perante a sociedade, pois o amor ao belo, ao sublime e o cultivo da inteligência e da cultura não tinha sexo. Condenável era a busca do sexo pelo sexo. As relações de pederastia incluíam também a questão do status social, nesse sentido o homem deveria ter ascendência intelectual, cultural e econômica sobre o adolescente. Afinal, ele complementaria a formação do jovem, iniciando-o nas artes do amor, no estudo da filosofia e da moral.
É importante esclarecer, que a relação homossexual entre um jovem e um homem mais velho era abertamente aceita e tida como natural, porém as relações entre homens da mesma idade não eram aceitas; acreditava-se que o homem que assumia postura passiva, não era tido como verdadeiro homem, pois o homem  assumia a postura ativa, ou seja, qualidade de “macho”, sendo que os passivos eram as mulheres, os jovens e os escravos, já que estes estavam em um plano inferior na sociedade.


Na sociedade Romana também existia uma repulsa com relação ao homem romano que adotava a condição de passivo, ou seja, mantinha-se a mesma concepção que o gregos tinham a respeito a passividade, que esta só deveria ser típica de mulheres, jovens e escravos. Porém esta desaprovação não era absoluta, pois a virilidade era requisito essencial, exemplo disto é a de Júlio César, que mantinha um caso com Nicomedes, rei de Bitínia, sendo que nesta relação César adotava a condição de passivo, o que para os Romanos era um ato ilícito, contudo, César também tinha uma reputação de conquistador de mulheres, destacando-se dentre tantas que não resistiram aos seus encantos Cleópatra. Júlio César era conhecido como “marido de todas as mulheres, e a esposa de todos os homens”.

Continua...
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